O discurso do ex-presidente Lula na cidade paraibana de Monteiro está recheado de lugares-comuns, de expressões que ele gastou abusivamente nas campanhas em que disputou a presidência da República e, depois, nos pronunciamentos feitos já como Sua Excelência, o Presidente. A parte mais visível do iceberg foi a facilidade com que Lula “tratorou” o presidente Michel Temer. Foi um massacre desigual. O presidente das ênfases e mesóclises, ultimamente encurralado com o problema da carne, não é páreo para Lula, nem para ninguém. Não forjou liderança nacional, estando fadado ao papel de coadjuvante. Além do mais, tem recorrido a medidas impopulares e acenado com outras tantas idem, dentro do raciocínio já exposto por Temer de que não corteja o aplauso da rua.
Bobagem do atual presidente que só chegou ao posto porque era vice de Dilma Rousseff, que sofreu o impeachment. Temer adoraria estar sendo consagrado nas praças públicas, nos postes, bajulado pela grande imprensa, cortejado por empresários e trabalhadores. Infelizmente para Temer, não foi possível construir o enredo com que íntimamente ele sonhava. E não necessariamente por problema de tempo, mas porque o personagem escalado (ele mesmo) não ajuda a compor o perfil de quem pode vir a constituir uma alternativa a um ex-presidente como Lula, que é citado como réu em processos que apuram escândalos. Temer não tem identidade com nada no Brasil. É um presidente abúlico, insípido, inodoro.
Em seu favor diga-se que não foi o golpista que o PT tenta pintar. Assumiu por via da Constituição e sob a supervisão do Supremo Tribunal Federal. A legalidade da investidura derivou do fato de ser o primeiro na hierarquia da sucessão constitucional em hipótese de afastamento de Dilma. Isto não quer dizer que ele tenha legitimidade popular, do ponto de vista de ser cortejado pelas massas. Esse estilo nem faz seu gênero nem se ajusta ao modelito que ele enverga, talhado em salões que são chamados a fazer milagres para imitar o figurino rococó, blasè, que caracteriza a tessitura do presidente e do governo que ele preside. Lula, amarfanhado, pareceu para os nordestinos o retirante que saiu daqui para ir tentar a vida em São Paulo. Soube dar sua própria contribuição para o perfil parecer mais autêntico, mais perto do imaginário popular.
Abstraindo esses detalhes, restou a coreografia de Lula. Voltamos, ainda que por um átimo de tempo, ao período em que Lula proclamava o “nunca antes na história deste País”. Desse ponto de vista, o ex-presidente não se reciclou. A História do Brasil tem que ser contada em A.C. (Antes de Cristo) e D.C (Depois de Cristo). Uma falta de criatividade de fazer qualquer um sentar no meio fio e chorar. Mas vindo da parte de Lula, haja vivas, haja aplausos. Haja alvíssoras e evoés. E tome bravata. “Rezem os meus adversários para eu não estar vivo em 2018 porque se estiver serei candidato para ganhar”, afirmou, num tom estudado que galvanizou as atenções da plateia adrede preparada para o mote. Lula faltou com a verdade. Ele não teme a morte na campanha eleitoral. Teme a inelegiilidade para concorrer ao posto devido aos óbices judiciais que tem pela frente.
Este é o verdadeiro resumo da ópera que se introjetou na cidade paraibana de Monteiro, onde, aliás, institucionalizou-se uma prática: a inauguração popular e a inauguração oficial. Esta, cabe a Temer conduzir, sem público, ainda que com a mídia a seus pés. A outra fica por conta de Lula e dos seus aliados. Porque ele é povão, ele fez tudo certo e fez muito pelo Nordeste e por todo o país e deve voltar com urgência à cadeira do Palácio do Planalto. Era possível poupar a muitos essa pantomima. Mas os lulopetistas foram até o fim e sondam, agora, a repercussão do que fizeram. Ó tempora, ó mores!
Nonato Guedes