Será às 16h de hoje, em João Pessoa, o sepultamento do corpo de Dom Marcelo Pinto Carvalheira, arcebispo emérito da Paraíba, que faleceu no sábado aos 88 anos em Recife após sentir-se mal durante o jantar na companhia de familiares. Dom Marcelo foi sagrado Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese da Paraíba em 1995, depois de ter sido bispo da diocese de Guarabira e bispo-auxiliar da Arquidiocese, então dirigida por Dom José Maria Pires. Os dois religiosos tiveram atuação marcante na defesa dos direitos humanos e das reivindicações dos trabalhadores rurais, contando com a decisiva colaboração de dom Helder Camara, arcebispo de Olinda e Recife e uma das mais destacadas figuras do clero brasileiro.
O governador Ricardo Coutinho (PSB) manifestou, ontem, seu pesar pelo falecimento de Dom Marcelo, afirmando que ele conciliava “coragem com ternura”. Os traços de “bondade e combatividade” também foram mencionados pelo senador Cássio Cunha Lima, do PSDB. O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, do PSD, decretou luto oficial e o presidente da Assembleia Legislativa, Gervásio Maia, expressou-se em rede social aludindo ao “dom” do arcebispo emérito como uma figura que se pautava pela solidariedade. Dom Marcelo nasceu no dia primeiro de maio de 1928 no Recife, filho de Álvaro Pinto Carvalheira e Maria Tereza Mendonça Carvalheira. Fez os estudos de Filosofia e Teologia na Universidade Gregoriana em Roma como aluno do Pontifício Colégio Pio Brasileiro, entre 1946 e 1953, sendo licenciado nas duas disciplinas.
Sua ordenação como sacerdote católico também aconteceu em Roma, no dia 28 de fevereiro de 1953. De volta ao Recife, foi professor de Filosofia e de Teologia no Seminário de Olinda, sendo assistente eclesiástico da Juventude Católica Independente até 1965. Foi diretor espiritual do Seminário Arquidiocesano do Recife (Várzea) por dois anos, de 1958 a 1960. A Ordenação Episcopal ocorreu em João Pessoa, no dia 27 de dezembro de 1975. Trabalhou com dom Helder Camara como vigário episcopal dos leigos. Foi preso pela ditadura militar em 1969, em Porto Alegre, submetido a torturas, sob acusação de ser emissário de Dom Helder para articular movimentos destinados à derrubada do regime. “Quando estava no cárcere, ele não fraquejou”, comentou o Frei Betto, que também estava preso na Capital gaúcha. Ex-diretor do Instituto de Teologia do Recife, membro do Regional Nordeste II da CNBB, Dom Marcelo foi nomeado arcebispo metropolitano da Paraíba pelo papa João Paulo II. Em 92 recebeu o título de “Personalidade do Ano” conferido pelo Grande Júri da Organização Francesa “Distinction Internationale”. Também em 92 participou como um dos 39 representantes do Episcopado na Conferência Geral Latino-Americana em São Domingos, na República Dominicana. Em 1987 participou do Sínodo dos Leigos em Roma. Deixou vasta contribuição literária, refletida em artigos na imprensa paraibana abordando temas contemporâneos e pregando a palavra de Deus, como ele fazia questão de pontuar.
Nonato Guedes