Há poucos dias, o governador Ricardo Coutinho (PSB) foi questionado intensamente na mídia nacional sobre a origem das despesas com o deslocamento à Paraíba dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff para acompanhar a chegada das águas da transposição do rio São Francisco a Monteiro, no Cariri. O governo do Estado forneceu esclarecimentos que, conforme ele, atestaram a legalidade de uma visita feita por ex-mandatários que se empenharam para concretizar a obra de redenção dos nordestinos, como é chamada. Agora, desponta em meios políticos, sobretudo entre adversários do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PSD), uma polêmica sobre a origem das despesas efetuadas nos seus deslocamentos a cidades do interior do Estado, nos finais de semana, a pretexto de manter contatos administrativos ou atender a convites para eventos públicos formulados por lideranças dessas localidades.
O bombardeio em cima do prefeito da Capital, que tende a ser redobrado com intervenções na Assembleia Legislativa e na Câmara de Vereadores de João Pessoa, ganha força em virtude da anunciada postulação do alcaide ao governo do Estado em 2018. Embora não tenha assegurados apoios em partidos que apoiaram sua reeleição para prefeito em 2016 e reitere, sistematicamente, que não tratará da próxima eleição senão no ano apropriado, alegando que a prioridade, na atual conjuntura, é administrativa, Luciano é tido pelos aliados e correligionários como um nome competitivo que pode transmitir ideia de renovação dos quadros políticos. Ele já visitou cidades na região do Brejo e da Várzea, como Mari e Sapé, e se deslocou para o extremo-oeste, frequentando cidades como Cajazeiras, no Alto Sertão. O prefeito explica que está atendendo a convites de gestores e de representantes de outros segmentos, interessados em conhecer as experiências desenvolvidas pela sua administração em João Pessoa. Ele define como “intercâmbio de ideias”, já que também acumula informações relevantes sobre projetos e programas que estão sendo colocados em prática nessas localidades.
O método não é original. Quando prefeitos de Campina Grande, Veneziano Vital do Rêgo e Cássio Cunha Lima acharam brechas em suas agendas administrativas pontuais para atender a compromissos de palestras ou de contatos em cidades do interior paraibano. Cássio foi candidato ao governo por três vezes, saindo vitorioso em duas delas; Veneziano ensaiou uma candidatura em 2010 e 2014 mas foi atropelado por divergências e outras postulações dentro do PMDB e não encarou a disputa ao Palácio da Redenção. Para 2018, ele apoia uma candidatura própria do partido ao governo ou uma candidatura indicada pelo governador Ricardo Coutinho, do PSB, em coligação com o PMDB, mas não assume pretensão de postular o Executivo estadual. Cássio mantém a expectativa de vir a ser chamado novamente para disputar o governo e, na medida do possível, trabalha para adiar os debates internos, a fim de evitar fissuras, como as de ontem, que o opuseram momentaneamente ao prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, do seu esquema político.
Reeleito prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo deixou os quadros do Partido dos Trabalhadores e já concorreu em 2016 pelo PSD, presidido pelo deputado federal Rômulo Gouveia. “Encantado” com a performance administrativa e eleitoral de Luciano e com o fato de o PSD controlar um colégio eleitoral da dimensão da Capital paraibana, Rômulo Gouveia não titubeia em proclamar o nome do gestor de João Pessoa como candidato a governador em 2018. Deixa claro que a legenda está aberta a composições com outras siglas, mas avalia que tem um nome com cacife ou densidade para enfrentar o governo. Em saindo candidato e vitorioso, Cartaxo renunciaria à prefeitura, favorecendo a ascensão ao mandato titular do ex-deputado federal Manoel Júnior, do PMDB, atual vice-prefeito. As lideranças de todos os partidos estão conscientes de que as chamadas tratativas políticas irão prosseguir. Enquanto 2018 não chega, Luciano Cartaxo não dá sinais de desistência da programação de viagens e deslocamentos ao interior do Estado. Mas os adversários começam a cobrar explicações sobre quem paga a conta das viagens.
Nonato Guedes