Era esperada a cobrança que começa a se intensificar junto ao prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PSD), para informar quem paga suas viagens ou deslocamentos a cidades do interior do Estado. Por mais que o alcaide afirme que essas viagens têm caráter de intercâmbio administrativo, com outros prefeitos e prefeitas e demais lideranças, a impressão de que há uma propaganda camuflada do seu nome para a disputa ao governo do Estado em 2018 é inevitável e, até certo ponto, pertinente. Afinal, o discurso de Luciano de que só tratará de eleições no ano apropriado, equivale dizer, em 2018, é encarado nos bastidores como conversa para boi dormir.
O prefeito da Capital respira, sim, campanha antecipada – e se vê ocupando a cadeira que atualmente é ocupada pelo governador Ricardo Coutinho. Se houver interesse em alguma analogia sobre as trajetórias de ambos, é possível descobrir pontos comuns, embora não haja linearidade nos respectivos históricos. Ricardo se preparou para governar o Estado depois de ter sido prefeito da Capital eleito em duas oportunidades. Fez estágio probatório, também, como vereador e como deputado estadual. Luciano foi vereador, deputado estadual, eventualmente vice-governador na chapa que complementou o mandato de Cássio Cunha Lima em 2009, e está no segundo mandato como prefeito de João Pessoa.
Alguma semelhança relevante entre Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo? Bem, os dois começaram militância política-partidária nos quadros do Partido dos Trabalhadores, numa época em que a legenda de Lula era saudada como a grande inovação do cenário político-institucional brasileiro. Não é o caso de achar que, dentro do metro quadrado do PT, Cartaxo e Coutinho conviveram às mil maravilhas ou estavam adrede afinados. Nada disso – mas estavam no mesmo barco, e este é um ponto de convergência nas biografias. O governador largou primeiro o PT quando se sentiu alvo de fritura no projeto para ser candidato a prefeito da Capital, embora ele (Ricardo) superasse inúmeros adversários em pesquisa que à época encomendou. Esforçando-se para manter a candidatura, Ricardo assinou ficha no PSB. Foi eleito duas vezes para a prefeitura e duas vezes para o governo do Estado.
Luciano Cartaxo saltou do PT quando aprofundou-se o desgaste nacional da legenda em meio a escândalos de nomeada como o mensalão e o petrolão. O alcaide entendia que não tendo nada a ver com os escândalos ou com as falcatruas cometidas por notáveis petistas não deveria arrostar, também, o efeito colateral do desgaste ou da queimação. Então, queimou as pestanas e migrou para o PSD, que na Paraíba passou ao controle do deputado federal Rômulo Gouveia, ligado ao senador Cássio Cunha Lima mas com autonomia na legenda. No PSD, Luciano logrou a primeira vitória, na reeleição em 2016. Não por força da legenda, mas por uma conjugação de forças que agregou PSDB e PMDB na órbita da sua postulação. Na sequência, deu-se que para manter a diferença sobre Cartaxo o governador, mesmo continuando no PSB, fez-se anfitrião de Dilma Rousseff quando ela estava na mira do impeachment. E, mais recentemente, anfitrionou o ex-presidente Lula (Dilma também) na visita a obras da transposição de águas do rio São Francisco em Monteiro, no Cariri paraibano.
Movimenta-se, então, por linhas cruzadas, a trajetória de Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo. De público, evitam emulação permanente, mas nos bastidores operam um contra o outro – ou um de olho no outro, o tempo todo. Esta é a percepção que salta ao cidadão paraibano que acompanha os passos das principais lideranças do quadro político. As viagens de Cartaxo ao interior deverão sofrer algum tipo de interrupção daqui em diante, com a cobrança por transparência na divulgação de gastos e o xeque-mate para que o prefeito assuma se realmente será ou não candidato ao governo do Estado. Ponto para Ricardo? Em tese. Mas há inúmeros rounds a serem travados na batalha. A conferir!
Nonato Guedes