A revista “Veja” revela em detalhes, com exclusividade, qual a estratégia que está sendo montada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reagir a uma possível ordem de prisão. A defesa e o PT, partido do ex-presidente, montaram um roteiro pormenorizado para os minutos que se seguirem à entrada da Polícia Federal na cobertura de São Bernardo do Campo (SP) onde mora o petista. O plano de contingência para o “Dia D” de Lula terá início em um grupo de WhatsApp batizado de “Tamoios”, reunindo 40 pessoas, inclusive o presidente nacional do partido, Rui Falcão, senadores e os presidentes da CUT e do MST.
“Veja” informa que nos termos do plano, Lula, tão logo receba a ordem de prisão, deve ligar para o advogado Cristiano Zann, que imediatamente acionará o grupo de WhatsApp. A partir daí, cada integrante se encarregará de dar a notícia ao maior número de pessoas e convocá-las para o local aonde o petista estiver sendo levado. O objetivo da ação seria dar uma demonstração de força do PT e apresentar Lula como um injustiçado. Muitos dirigentes avaliam que o episódio pode reverter positivamente para o petista, que teria a chance de usá-lo politicamente em seu favor e sair da cadeia ainda mais forte do que entrou.
Réu em cinco denúncias, duas na Lava Jato no Paraná, uma na Operação Zelotes, uma na Operação Janus e uma no âmbito da Lava Jato em Brasília, o ex-presidente também é alvo de quatro inquéritos. As acusações são de prática de crimes de lavagem de dinheiro, corrupção passiva, tráfico de influência, organização criminosa e obstrução da Justiça. A iniciativa de traçar um plano para reagir à prisão de Lula surgiu depois que o petista foi conduzido coercitivamente para depor no escritório da PF no aeroporto de Congonhas em São Paulo, em quatro de março do ano passado. Os policiais chegaram ao apartamento de Lula às 6 horas e foram recebidos pelo próprio. Não havia nenhuma estratégia prévia traçada, o que desnorteou Lula e os petistas. “Veja” lembra que há três semanas Lula declarou que acorda todos os dias achando que será preso. Se será mesmo e quando, ninguém pode dizer, mas caso isso aconteça o PT e o ex-presidente não serão pegos de calça curta.
Conforme “Veja”, o plano de agora vai passar por um teste no dia três de maio. É a data estipulada para o depoimento que Lula dará ao juiz Sérgio Moro em Curitiba. Em apoio ao ex-presidente, movimentos sindicais e populares pretendem marcar presença na capital paranaense. A iniciativa, batizada de Ocupa Curitiba, está sendo organizada por uma frente integrada por cerca de 70 entidades, que esperam reunir caravanas provenientes de todos os pontos do país. Algumas entidades têm proposto que as comemorações de primeiro de maio sejam transferidas para Curitiba e que os manifestantes montem acampamento diante da Décima Terceira Vara da Capital, onde Moro despacha. A ideia é reunir 50 000 pessoas no local. É a primeira vez que o ex-presidente ficará cara a cara com Sérgio Moro.
Nonato Guedes