Em relação ao páreo presidencial para 2018 um fato já é irreversivelmente certo: o senador mineiro Aécio Neves, do PSDB, que perdeu para Dilma Rousseff em 2014, está fora da corrida. O tucano caiu na teia de delações da Odebrecht, em situação teoricamente mais complicada do que a de mais dois tucanos ilustres – José Serra e Geraldo Alckmin. Um dos executivos da Odebrecht afirmou na delação que a construtora fez depósitos na conta de Aécio em Nova York, operada por sua irmã, a jornalista Andrea Neves, que nega a acusação. No dizer da revista Veja, a denúncia do executivo Benedicto Júnior é grave e atinge em cheio a imagem de um político que, até outro dia, firmava-se como a principal liderança da oposição ao governo do PT.
Com o impeachment de Dilma Rousseff, o neto do ex-presidente Tancredo Neves tornou-se figura expressiva, embora atuando nos bastidores, no governo de Michel Temer. Paradoxalmente, é um dos políticos mais citados nas denúncias da Odebrecht. Dos 83 inquéritos que a Procuradoria-Geral da República pediu para abrir com base nas delações da empreiteira, seis se referem a Aécio. De conformidade com o teor das delações, ele é também o político que recebeu uma das mais altas somas da construtora, 70 milhões de reais, considerando-se os pagamentos de 2003 até agora. Esse dinheiro não apareceu nas contas de campanha de Aécio que foram declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral. Oficialmente, nos registros do TSE, Neves recebeu 15,9 milhões de reais da Odebrecht em 2014. Nos anos anteriores não foi possível levantar o montante, já que a lei permitia que as doações fossem feitas aos diretórios ligados ao candidato.
Até então apontada por petistas como uma operação concebida para destruir o PT e afastar seus líderes do poder, a Lava Jato tornou-se um fator de instabilidade no já bastante instável ninho tucano. A prova concreta está na citação a três condestáveis da legenda, presidenciáveis em potencial, como Serra, Alckmin e Aécio. Alckmin, ao que se sabe, é o menos afetado dos três tucanos citados nas delações da Odebrecht e sabe que isso pode contar a seu favor no ano que vem. Executivos da empreiteira afirmaram que não chegaram a discutir o pagamento de vantagens indevidas diretamente com ele. Os repasses teriam sido negociados com pessoas próximas a Alckmin. A certeza que se tem é que Aécio jogou a toalha na eventual corrida para o Planalto e, mesmo protestando inocência diante das acusações, antecipou que deverá disputar a reeleição ao Congresso ou o governo de Minas Gerais, que já exerceu.
A Lava Jato tem tido um efeito demolidor sobre muitas carreiras políticas que pareciam promissoras porque conseguiu desvendar conexões subterrâneas de transações de falcatrua efetuadas por figuras expressivas da política nacional. Especula-se quem será o próximo presidenciável a cair – ou seja, a ser excluído da disputa de 2018. Suspeitas nesse sentido recaem sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já assumiu – inclusive em discurso na Paraíba – o propósito de disputar a presidência da República no próximo ano. Seria, conforme ele, uma reparação de injustiças que acredita estar sofrendo, uma vez que não confirma envolvimento em irregularidades nas quais seu nome aparece em evidência. Nota-se que o ex-presidente Lula põe em prática uma estratégia diferenciada para escapar ao furacão da Lava Jato. Com os principais quadros petistas praticamente dizimados, uma ex-presidente da República alcançada por processo de impeachment e notáveis da direção recolhidos atrás das grades, como o ex-deputado José Dirceu, Lula é o próximo na linha de tiro.
O ex-presidente vai estar frente à frente com o juiz Sérgio Moro e já planeja montar uma operação para safar-se como vítima de hostilidade política. É uma cartada de alto risco, uma vez que há elementos consistentes para indiciamento do ex-presidente Lula e até mesmo para a decretação de sua prisão. Ele já experimentou uma prévia dos dissabores quando foi conduzido de forma coercitiva para prestar depoimento num escritório da Polícia Federal em um dos aeroportos de São Paulo. Na época, a cúpula e a militância petista foram colhidas de surpresa. O próprio ex-presidente Lula, que sempre se achou inimputável, foi quem abriu a porta para entrarem os agentes da Polícia Federal que o notificaram do mandado de condução coercitiva para prestar depoimento. Esbravejou, ligou para advogados, ameaçou resistir, mas acabou cedendo às evidências e concordando em ir depor no aeroporto. Agora, Lula e os petistas estão mais preparados contra novas eventualidades ou surpresas desagradáveis.
A indefinição da situação de Lula do ponto de vista jurídico se reflete no projeto político da sua candidatura a presidente em 2018, que é almejada pelos petistas e lulistas de carteirinha. Há uma zona de sombra sobre a viabilidade eleitoral da candidatura de Lula – afinal de contas, ele pode vir a estar preso em 2018 quando o processo da disputa estiver ocorrendo. Se não estiver preso e puder ser candidato, Lula espera faturar a condição de vítima. Com a derrocada de concorrentes pilhados pela Lava Jato, se por algum milagre ele escapar das condenações como réu poderá lograr fazer o caminho de volta ao Planalto pelo voto. Ou não. A credibilidade de Lula começa a ser corroída em setores bastante influentes na opinião pública. Resta esperar.
Nonato Guedes