Uma reportagem da revista ISTOÉ revela que o PT está num beco sem saída em virtude do envolvimento de líderes de expressão em escândalos, as prisões de alguns deles e o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. “Atônito e com a Lava Jato em seu encalço, o partido não consegue medir mais nem suas decisões políticas internas”, acrescenta a revista, citando como mais recente exemplo de descontrole a decisão de fechar em torno do nome de Gleisi Hoffmann, acusada de corrupção, junto com o marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, para presidir a legenda em substituição a Rui Falcão. Mas nem mesmo isso é consenso.
Partiu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que por sua vez está na mira do juiz Sérgio Moro – a articulação para que a senadora Gleisi, do Paraná, seja a nova dirigente da agremiação, embora ela esteja sendo investigada na Lava Jato. A opção por Gleisi praticamente minou as chances do senador paraibano Lindbergh Farias, que representa o Estado do Rio no Congresso, de ascender ao comando. Farias teve o veto pessoal de Lula com o argumento de que não é um petista ortodoxo, tanto assim que já militou em siglas como o PSTU e o PCdoB. Lula chegou a ser cogitado como nome consensual para a presidência, entretanto, o fato de ser réu em cinco ações com condenações em primeira instância batendo à porta fez com que ele preferisse dedicar-se a salvar a própria pele.
Sabe-se que o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, foi sondado para assumir a direção, mas não quis nem conversa. A convulsão interna se agrava com ameaças reiteradas de Lindbergh Farias de permanecer no páreo e bater chapa com Gleisi, o que dividiria ainda mais, profundamente, o Partido dos Trabalhadores, fundado na década de 80 no Colégio Sion, em São Paulo. A eleição para a presidência nacional ocorrerá em junho, e tanto Lindbergh como Gleisi são investigados no âmbito da Lava Jato. Sobre Gleisi, a ISTOÉ adverte que ela pode afundar de vez o partido, já que responde a uma ação penal no STF por recebimento de doação ilegal de R$ 1 milhão para a sua campanha ao Senado em 2010. Lindbergh, até então, considerava-se um político da preferência de Lula, até que o ex-presidente tornou públicas algumas restrições ao parlamentar pelo Estado do Rio. As últimas denúncias de corrupção varreram os principais quadsros do partido, como José Genoíno, Delúbio Soares, João Paulo Cunha, implicados no mensalão, e José Dirceu, Antônio Palocci, João Vaccari e André Vargas, no petrolão.
A proximidade de disputa presidencial, em que Lula seria novamente candidato, como ele pretende, leva a cúpula petista a correr contra o relógio e tentar medidas improvisadas de fortalecimento da legenda nos Estados. As informações chegadas a Brasília, entretanto, não são animadoras e dão conta do desencanto da militância petista quanto a engajamento em futuras campanhas. O ex-governador gaúcho Olívio Dutra definiu como “uma lambada” o resultado pífio do PT nas últimas eleições municipais, elegendo apenas 256 prefeitos contra 630 prefeituras em 2012. Integrantes da direção nacional, “em off”, alegam que a saída para o Partido dos Trabalhadores seria promover uma profunda renovação, com isto salvando a legenda. “Mas o recado das urnas parece não ter sido assimilado corretamente”, ressalta uma fonte da direção nacional.
Nonato Guedes