A jornalista paraibana Rachel Sheherazade, apresentadora do telejornal do SBT em São Paulo, reagiu com deboche aos que criticaram seu “patrão”, Sílvio Santos, que “puxou” suas orelhas domingo na cerimônia de entrega do Troféu Imprensa. Na ocasião, Sílvio pediu, de público, a Rachel, que evitasse tecer opiniões sobre temas polêmicos da conjuntura brasileira, para não lhe criar problemas com governos que são responsáveis pela liberação de concessões para funcionamento de canais de rádio e TV. Citando o poeta Mário Quintana – “A ironia atinge apenas a inteligência; inútil desperdiçá-la com os que estão longe de alcançá-la”, Sheherazade insinuou que ainda não foi inventado um antídoto contra a burrice, que, a seu ver, é invencível, nos termos das reflexões de Mário Quintana.
No programa especial de domingo para entrega dos troféus Imprensa, de versões anteriores de premiações do SBT, o também apresentador Sílvio Santos dirigiu farpas a Rachel Sheherazade e a Danilo Gentilli. Rachel tentou esboçar um leve protesto alegando que havia sido contratada para emitir opiniões. Sílvio Santos não confirmou isto e afirmou que ela foi contratada para, “com seu talento e beleza”, ler as matérias produzidas pela equipe de jornalismo do SBT. Ainda ontem, diante da repercussão nacional do episódio, Rachel valeu-se do Twiter para dizer que nem todos entendem as brincadeiras de Sílvio Santos com suas “colegas de trabalho”, como ele chama. “Obrigado por fazer brilhar meu intelecto”, ponderou Sheherazade, dando a entender que assimilou sem traumas o puxão de orelhas de Sílvio Santos. Originalmente Rachel foi contratada em 2011 pelo SBT para ir para São Paulo depois que Sílvio assistiu no Youtube a um comentário dela, na TV Tambaú, em João Pessoa, criticando as prévias carnavalescas da Capital paraibana. Já na bancada do SBT, dividindo espaço com profissionais veteranos, Sheherazade passou a alimentar polêmicas.
A mais explosiva das polêmicas foi a sua manifestação favorável a populares que lincharam um suposto ladrão de ninharias no Rio de Janeiro. Disposta a aproveitar os 15 minutos de fama, Rachel saiu em defesa dos justiceiros. “A atitude dos vingadores é até compreensível. O contra-ataque aos bandidos é o que eu chamo de legítima defesa coletiva. Aos defensores dos direitos humanos que se apiedaram do marginalzinho preso ao poste, lanço uma campanha: faça um favor ao Brasil, adote um bandido”. A reação foi imediata. Parlamentares federais queriam processar Sheharazade, o Sindicato de Jornalistas de São Paulo protestou contra a atitude dela e o PSOL ingressou com representação por apologia ao crime. Tida como reacionária e de posições direitistas, Sheharazade teve o apoio do deputado federal Paulo Malouf naquele episódio. “Desejo elogiar a coragem da jornalista de pensar e transmitir o seu pensamento de acordo com o preceito legal da liberdade de imprensa”, obtemperou Maluf. O deputado federal Jair Bolsonaro, outro expoente da direita, afirmou que Rachel era uma jornalista brilhante e incomodava a esquerda, principalmente a mais xiita, a mais radical. O pastor Silas Malafaia também ficou do lado de Rachel. A revista CartaCapital, numa matéria de capa, definiu Rachel como expoente da barbárie em oposição à civilização. A expectativa é sobre os próximos passos de Rachel no metro quadrado do SBT, diante da imprevisibilidade de Sílvio Santos.
Nonato Guedes