A Igreja Católica na Paraíba já está recomendando aos eleitores que não votem em políticos que forem favoráveis à reforma da Previdência que está sendo engendrada pelo governo de Michel Temer. O administrador apostólico Dom Genival Saraiva informou ao “Correio da Paraíba” que a postura reproduz a nota da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB repudiando qualquer medida ameaçadora aos direitos dos trabalhadores. O posicionamento de agora sinaliza que a Igreja, depois de mais de duas décadas, volta a construir um alinhamento político com a população, efetivando um trabalho focado na conscientização e informação da sociedade a respeito de temas polêmicos.
O vigário geral Virgílio Bezerra, de João Pessoa, recordou o protagonismo assumido pela instituição na década de 80, tendo havido recuo diante do fortalecimento dos movimentos sociais. Ele mesmo parfticipou ativamente na década de 80 dos debates em defesa dos interesses populares coordenados pela Igreja. O padre Virgílio explica: “Com os movimentos sociais, continuamos atuando, mas de forma mais resguardada”. Dom Genival, por sua vez, avalia que a chegada do papa Francisco ao posto de autoridade maior da Igreja Católica abriu espaço para discussões como a da reforma da Previdência. Para ele, houve a necessidade de uma manifestação por parte da Igreja diante dos riscos impostos a direitos que já estão consagrados. “A Igreja está no meio do povo e vive diretamente as problemáticas da população”, expressou.
A proposta da reforma encaminhada pelo presidente Michel Temer tem originado polêmica entre parlamentares que combatem a atual gestão. Dom Genival Saraiva chamou a atenção para as manifestações do clero sobre conflitos indígenas e conflitos pela posse da terra. O administrador apostólico, todavia, descartou a hipótese de formação de uma “bancada de padres” no Congresso Nacional. “O que nos interessa é contribuir para a formação de líderes que defendam a sociedade. Em algumas igrejas já foram distribuídas cópias da nota da CNBB e alguns padres têm intensificado debates com os fiéis. O padre Marcondes Meneses, da paróquia Menino Jesus de Praga, dos Bancários, afirmou que a instituição religiosa está vigilante, acompanhando o posicionamento dos 12 deputados federais e dos três senadores. Frisou que é importante conhecer a postura dos parlamentares e comparar se ela atende mesmo aos anseios da sociedade.
O deputado Benjamin Maranhão (SD), coordenador da bancada federal paraibana, salientou que a campanha deflagrada pela Igreja não vai interferir no seu posicionamento pessoal. Ele diz que se opõe a trechos da reforma que tratam da aposentadoria dos agricultores e da idade das mulheres para terem direito à aposentadoria. O deputado Pedro Cunha Lima, do PSDB, assegurou que seu voto não irá retirar direitos dos trabalhadores. Chamou a atenção para o fato de persistirem profundas desigualdades econômicas e sociais. “Temos consciência de que é relevante o papel do Congresso no sentido de não afetar essas conquistas”, pontuou Pedro, filho do senador Cássio Cunha Lima, primeiro vice-presidente do Senado Federal.
Nonato Guedes