O ocaso nacional do Partido dos Trabalhadores, com uma escalada de defecções causadas pelo desgaste da legenda em meio a escândalos envolvendo cabeças coroadas e ao impeachment da presidente reeleita Dilma Rousseff coincidiu, na Paraíba, com a perda do controle da prefeitura de João Pessoa. Em 2012, com a eleição de Luciano Cartaxo em segundo turno, derrotando o então senador Cícero Lucena, do PSDB, o PT teve o controle da única capital do Nordeste conquistada nas urnas. Foi uma espécie de “jóia da Coroa”, como classificaram os próprios líderes petistas empolgados com um marco de resistência e de poder fincado na Paraíba.
Filiados do partido foram aproveitados por Cartaxo em secretarias estratégicas. O prefeito também acolheu militantes petistas derrotados em eleições proporcionais para a Assembleia Legislativa ou a Câmara Municipal de João Pessoa. Luciano Cartaxo, entretanto, resolveu se desfiliar da agremiação ao pressentir sinais de desgaste. Em conversas informais com expoentes do seu círculo, deixou claro que seu nome não estava envolvido em denúncias que pipocaram na imprensa e que lhe seria desconfortável defender a legenda quando até dirigentes nacionais encontravam-se presos e respondendo a processos de corrupção, contrariando o discurso apregoado em campanhas na defesa de bandeiras éticas caras para o eleitorado. O gesto de Cartaxo foi, de certo modo, entendido pela cúpula partidária no Estado, apesar da frustração pela perda do controle da máquina municipal.
Luciano acelerou o processo de desfiliação ao receber propostas para ingresso em outras legendas. A que lhe pareceu mais atraente foi a oferta do PSD, presidido no Estado pelo deputado federal Rômulo Gouveia. Cartaxo ingressou nas hostes do PSD com honras e com perspectivas de ascensão política, refletida numa eventual candidatura ao governo do Estado em 2018. A pretensão da candidatura de Luciano continua posta para avaliação por outros partidos, embora o prefeito assegure que está focado apenas no ritmo administrativo. Nos últimos dias, Cartaxo deflagrou maratona de viagens a cidades do interior da Paraíba, a pretexto de trocar experiências com gestores e de repassar informações sobre o que está sendo feito em João Pessoa. Na prática, ele se movimenta para “estadualizar” o seu nome, ultrapassando a ponte do rio Sanhauá em demanda a cidades que ficam localizadas no próprio Sertão paraibano.
As especulações sobre uma candidatura em 2018 ao governo e a troca de farpas com o governador Ricardo Coutinho, do PSB, que encontra dificuldades para eleger o seu sucessor, pouparam Cartaxo de sustentar um bate-boca com antigos companheiros do PT a respeito dos rumos que a legenda tomou e que, infelizmente, contribuíram para enfraquecê-la em todo o país. Houve até mesmo um distanciamento de Cartaxo de líderes nacionais petistas como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na última visita de Lula ao Estado, para acompanhar a transposição das águas do rio São Francisco, o anfitrião do ex-presidente e da ex-presidente Dilma Rousseff foi o governador Ricardo Coutinho. Cartaxo manteve distância providencial da comitiva que se deslocou à região do cariri.
Se realmente assumir a candidatura a governador em 2018 e for vitorioso, Luciano Cartaxo estará contribuindo para que o PMDB ascenda à titularidade da prefeitura da Capital, na pessoa do vice-prefeito Manoel Júnior, ex-deputado federal. O prefeito luta para manter coesa a aliança formada em torno dele em 2016, que atraiu o PMDB e o PSD do senador Cássio Cunha Lima, mas há dúvidas quanto ao apoio dos tucanos a um projeto seu no próximo ano, devido a outras postulações que eclodiram no ninho tucano. Antes de chegar ao poder na Capital com Luciano Cartaxo, o PT logrou ir longe no cenário eleitoral em 92, quando o então deputado estadual Francisco Lopes foi para o segundo turno contra Francisco Franca, do PDT, este apoiado pelo ex-governador Wilson Braga e pela ex-deputada Lúcia Braga. Franca ganhou no segundo turno, mas o avanço do PT foi anotado pela cúpula e pelos militantes e comemorado como primeiro passo para uma expansão por todo o Estado. Os escândalos que minaram a cúpula nacional enterraram ps sonhos dos petistas paraibanos.
Nonato Guedes