Na próxima terça-feira o presidente do Senado Federal, Eunício Oliveira (PMDB-CE), lança em Brasília a coleção “Senadores da República – Discursos Memoráveis”. O primeiro volume trará os pronunciamentos de Ronaldo Cunha Lima, que se elegeu ao Senado em 1994, junto com Humberto Lucena, depois de ter sido governador da Paraíba e ter ocupado outros mandatos políticos. Comentando o perfil de Ronaldo, o senador Eunício afirma: “Ronaldo Cunha Lima não discursava, lecionava. Mesmo os seus relatos mais modernos eram verdadeiras aulas sobre os acontecimentos e os desafios da Paraíba, do Nordeste e do Brasil”.
Nascido em Guarabira, mas com base política centrada em Campina Grande, de onde se projetou para todo o Estado, o poeta Ronaldo Cunha Lima foi o único a exercer todos os mandatos políticos – de vereador a governador. Só não foi presidente da República, mas chegou a ter seu nome cogitado como candidato a vice numa chapa do PMDB que seria encabeçada por Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo. No Senado, Ronaldo foi um parlamentar aplicado na produção e interpretação de projetos de lei envolvendo assuntos complexos. Também fez discursos sobre a problemática do Nordeste, denunciando as desigualdades econômicas e sociais e pugnando pela transposição das águas do rio São Francisco. Engajou-se, decisivamente, na defesa do monopólio estatal do petróleo, recordando campanhas cívicas nacionalistas deflagradas no Brasil.
A atuação de Ronaldo no Senado foi mais profícua do que na Câmara Federal. Nesta, ele pouco pontificou, uma vez que tirou sucessivas licenças para beneficiar suplentes, companheiros de partido. Ronaldo Cunha Lima elegeu-se governador em 26 de novembro de 1990, num segundo turno, derrotando um campeão de votos que era tido como favorito na largada do páreo – o ex-governador Wilson Braga. Concorrendo pelo PMDB, tendo como vice o então empresário Cícero Lucena, Ronaldo ganhou o apoio, no segundo turno, do ex-deputado federal João Agripino Neto, que concorreu pelo PRN e alcançou votação regular junto a segmentos da classe média do eleitorado paraibano. À frente do governo, Ronaldo conseguiu, com a ajuda do vice e da bancada peemedebista federal, reabrir o Paraiban, banco estatal de fomento cuja liquidação extrajudicial havia sido decretada pelo Banco Central no final do governo de Tarcísio Burity, a quem Cunha Lima sucedeu.
Cassado pelo regime militar instaurado em 64, quando era prefeito de Campina Grande, Ronaldo Cunha Lima voltou mais tarde, pelo voto, à prefeitura da Rainha da Borborema. Ele foi eleito novamente em 1982 e acabou sendo favorecido por uma prorrogação nacional de mandatos, que elevou para seis anos o período de duração da sua passagem pela prefeitura. Seu filho, Cássio Cunha Lima, seguiu as pegadas políticas do pai e atualmente é o primeiro vice-presidente do Senado Federal, pelo PSDB. Cássio foi eleito governador do Estado por duas vezes e por três vezes prefeito de Campina Grande, tendo exercido, ainda, o mandato de deputado federal e a superintendência da Sudene. De Ronaldo, os mais antigos dizem que ele inaugurou na Paraíba o improviso poético nos comícios políticos. Ainda rapazola, era convidado para todo palanque do PSD, então o partido em que estava. Dono de um carisma reconhecido atré pelos adversários, Ronaldo publicou inúmeros livros de poesias, demonstrando a paixão que tinha pela rima. Também destacou-se como advogado criminalista, participando de embates memoráveis em tribunais de júri.
Nonato Guedes