A escola do “achismo” enraizada em segmentos da mídia paraibana tenta fazer crer que a grande ambição que move o governador Ricardo Coutinho (PSB) é a de ser lançado candidato a presidente da República. Isto faria bem à sua vaidade e poderia, até, tornar-se uma hipótese viável diante da carência de quadros no cenário nacional, onde Jair Bolsonaro, uma excrescência da política, consegue apoio de uma parcela de eleitores desinformados. Querem uma informação segura? É esta: a prioridade do gestor socialista reeleito na Paraíba em 2014 é a de conseguir eleger o seu sucessor. Não é só uma questão de testar a sua capacidade de transferir votos, mas de necessitar de uma figura de confiança que o substitua no Palácio da Redenção.
A situação posta nesses termos traz-me à lembrança o ex-governador Tarcísio Burity, um dos políticos mais preparados que o Estado já teve. Ele me confessou, certa feita, que após deixar o governo pela primeira vez (quando havia sido escolhido por via indireta), recebeu conselho de pessoas experientes para que disputasse um mandato qualquer em 86. Alegou-se a Burity que ele iria precisar de uma tribuna para se defender de acusações, partidas, inclusive, dos que proclamaram-se seus aliados, mas que, na verdade, eram aliados – e apegados ao poder. Foi sob o impacto do alerta que Burity se candidatou a deputado federal, logrando eleger-se, em 82. O eleito para o governo foi Wilson Braga, do mesmo esquema de forças, mas que desandou a falar de herança maldita, responsabilizando o antecessor por dificuldades com que se deparou.
“Em política, a gente só tem a liberdade de entrar. Para sair, o caminho é complicado, exatamente porque terão vicejado adversários que na primeira oportunidade preparam a tocaia”, comparou Burity, nessa conversa. Burity enfrentou o fogo cruzado ou o bombardeio cerrado com a sua própria retórica e com informações que guardou em pastas, detalhando minuciosamente números e realizações do seu primeiro mandato. Quando venceu o governo em 86, já concorrendo nas urnas, Burity foi desafiado no próprio exercício do poder. O PMDB rompeu com antecedência e Burity tentou improvisar aliados de última hora, não sendo bem-sucedido na empreitada. Para fechar o firo não disputou outro mandato, de preferência na esfera parlamentar, que teria como trincheira de luta para fazer face ao fogo cruzado. Mutatis mutandis, o atual governador sabe que serão gatos pingados os que se dispuserem a defendê-lo e se comprometerem a não destruir seu legado. Claro que ninguém recusa uma indicação para concorrer a presidente da República, mas Coutinho quer aplainar, primeiro, a sua sobrevivência pessoal e política.
Quem estiver acompanhando a cena política macro na Paraíba nos últimos anos e for dotado(a) de um mínimo de fosfato vai reparar que nas disputas à prefeitura de João Pessoa, em 2012 e 2016, o governador Ricardo Coutinho lançou candidaturas próprias pelo PSB, coincidentemente de duas mulheres – Estelizabel Bezerra e Cida Ramos. O governador sabia que os confrontos seriam desiguais e que dificilmente as candidatas lançadas teriam fôlego para adquirir passaporte para o segundo turno. Foi o que aconteceu. Nessas duas eleições na Capital, Ricardo testou, também, o seu poder de transferência de votos, e constatou que se trata de um fenômeno complexo na sistemática política brasileira. Desde então, ele dá tratos à bola para apresentar uma chapa que seja estratégica para seu projeto. Experimenta nomes como os de Gervásio Maia, Estelizabel Bezerra ou João Azevedo dentro do PSB e corteja peemedebistas como o senador Raimundo Lira e o deputado federal Veneziano Vital do Rêgo. É uma espécie de estágio probatório a que o gestor se atira na esperança de tirar a sorte grande na loteria. Achar a candidatura ideal para sucedê-lo e dar continuidade aos seus projetos é, de verdade, a grande obsessão de Ricardo Coutinho.
Nonato Guedes