Militantes e dirigentes petistas na Paraíba saudaram, ontem, em manifestações à imprensa ou via redes sociais, a soltura do ex-ministro José Dirceu, que era considerado como eminência parda no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e acabou exonerado da chefia da Casa Civil, onde exercia amplos poderes, devido a denúncias de envolvimento no mensalão. O Supremo Tribunal Federal concordou com a liberdade de Dirceu, mas o juiz Sérgio Moro decidiu que o ex-ministro deve usar tornozeleira eletrônica e não pode deixar Brasília, cidade onde reside. Ele foi a Curitiba, ontem, para colocar a tornozoleira.
Diante da incógnita sobre o futuro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, inclusive, quanto à sua elegibilidade caso resolva disputar as eleições de 2018, as lideranças petistas de várias regiões do país apostam fichas em José Dirceu para refazer o projeto de poder do partido que foi interrompido com as prisões de expoentes da legenda e com o impeachment de Dilma Rousseff. Zé Dirceu está umbilicalmente ligado à história do PT, lembra o deputado federal Luiz Couto, ao mencionar o empenho do ex-ministro da Casa Civil no processo de organização e tomada do poder pelo voto. Ativista de esquerda na ditadura militar, ex-presidente da União Nacional dos Estudantes e um dos primeiros presidentes do Partido dos Trabalhadores, José Dirceu sempre foi considerado um teórico “qualitativo” nas hostes petistas.
Sua candidatura a presidente da República foi cogitada na esteira da primeira vitória de Lula ao Palácio do Planalto. Por outro lado, José Dirceu, apesar da fama de “arrogante” e “autoritário”, cultivada junto a hostes do próprio Partido dos Trabalhadores, é tido como carismático e detentor de pulso para articular correntes divergentes na agremiação. Ele fez isso na fase inicial do partido, neutralizando grupos radicais quando julgava isto necessário à estratégia política. Depois de deixar, ontem, a sede da Justiça Federal em Curitiba, Zé Dirceu foi alvo de manifestações de grupos contrários e favoráveis à sua detenção. As Polícias Federal e Militar tiveram que montar cordões de isolamento para evitar confflitos entre manifestantes.
A hipótese de José Dirceu retornar ao presídio é admitida abertamente em diferentes esferas, mas seus aliados e admiradores torcem para que ele permaneça em liberdade o tempo necessário para comandar a reorganização do Partido dos Trabalhadores, juntamente com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Alega-se que o partido estava submetido a uma crise de identidade e sem rumos para o futuro diante da perda de quadros importantíssimos nas suas fileiras. Mas, agora, as esperanças renascem, pelo menos quanto a formulações para os passos que devem ser seguidos. Mesmo dentro do presídio, Dirceu elaborou formulações dirigidas a militantes e filiados do PT sobre as posições que devem ser adotadas. Ele mantém o velho jogo de cintura que o caracterizou quando o PT estava no poder. Aliás, na campanha de Lula a presidente em 1989, José Dirceu afirmou: “Em vez de comandar uma coluna guerrilheira, o grande sonho da minha vida, vou ter que comandar uma coluna de carros oficiais em Brasília”. Referia-se à chegada ao poder, que se materializou em 2003.
Nonato Guedes