O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se sentará diante do juiz Sergio Moro depois de amanhã, às 14h, em Curitiba, para prestar seu primeiro depoimento ao magistrado que virou herói nacional no comando da Operação Lava-Jato, tem incentivado uma “guerra de nervos” nas redes sociais e em outros meios de comunicação para motivar a militância petista. O objetivo maior da estratégia seria o de desqualificar a Operação Lava-Jato, que já mandou para a cadeia cabeças coroadas do Partido dos Trabalhadores e ex-ministros dos governos de Lula e de Dilma Rousseff.
Embalado pelo clima beligerante, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, deu declarações alertando que uma possível condenação de Lula pode desencadear um movimentoi de insurreição civil no país. O PT, aliado a centrais sindicais e movimentos sociais, chegou a cogitar reunir pelo menos 50 mil pessoas na capital paranaense e mais de setenta caravanas de ônibus foram mobilizadas em todo o país. Diante do cenário de radicalização e receando incidentes, a Justiça em Curitiba decidiu suspender todas as atividades no dia do depoimento para permitir a entrada no prédio apenas de quem estiver envolvido na oitiva de Lula. A revista “Veja” informa que o entorno do edifício da Justiça será bloqueado num raio de 150 metros, com acesso liberado só para moradores e jornalistas credenciados.
Nos últimos meses, Sergio Moro tem sido assediado em lugares públicos, tanto no Brasil como no exterior, com a pergunta que incomoda: “Quando o senhor vai prender o Lula?”. O magistrado não dá respostas, até porque já afirmou que não sabe até onde chegará a atuação da Operação Lava-Jato. O ex-presidente Lula passou a bombardear Moro nos últimos dias, sem obter resposta. O juiz costuma dizer que não há nada de pessoal em suas decisões nem na relação com seus investigados ou os réus que condena. Após proferir conferência na Universidade da Pensilvânia (EUA), o juiz declarou a jornalistas que tem se empenhado em ser muito zeloso com o devido processi legal. Descartou, também, versões sobre intromissão do governo Michel Temer para abafar as investigações, diante do possível envolvimento de figuras ligadas ao mandatário, que na sexta-feira próxima completará seu primeiro ano de governo, ao qual ascendeu com o impeachent de Dilma Rousseff.
O interesse internacional pelas investigações sobre o escândalo de corrupção na Petrobras colocou Sérgio Moro no patamar de juízes como o espanhol Baltasar Garzón, que decretou a prisão do ditador Augusto Pinochet, e o italiano Giovanni Falcone, responsável pela Operação Mãos Limpas, assassinado pela máfia em 1992. Somente em 2016 ele proferiu três palestras em universidades americanas. Os convites chegam às dezenas, de várias partes do mundo, como Alemanha e Portugal. Numa das suas explanações sobre a Lava-Jato, ele definiu que há um lado negro, por revelar tanta corrupção, mas que também há um lado luminoso porque mostra que o Brasil está enfrentando seus problemas e quer se tornar um país menos corrupto e melhor. Falou, também, da dificuldade histórica da Justiça brasileira em lidar com casos complexos que envolvam altas autoridades e lembrou que os protestos de rua que reuniram milhares de pessoas em dezenas de cidades do país foram uma importante manifestação de apoio popular à investigação.
Nonato Guedes