O País está com as atenções voltadas para Curitiba, no Paraná, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestará depoimento a partir das 14 horas ao juiz Sergio Moro no Tribunal Regional Federal da Quarta Região. Três deputados estaduais paraibanos que estão solidários com Lula, diante das acusações de envolvimento em irregularidades, pretendem assistir ao depoimento que terá a presença da ex-presidente Dilma Rousseff. Os deputados Jeová Campos (PSB), Anísio Maia e Frei Anastácio Ribeiro (PT) consideram Lula inocente e acham que há uma orquestração midiática para destruir o líder petista.
Lula é mencionado em seis processos que tramitam em Brasília e Curitiba, envolvendo uma formidável gama de crimes: corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa, crime contra a administração pública, fraude em licitações, cartel, tráfico de influência e obstrução da Justiça. O Ministério Público Federal, a Polícia Federal, a Receita e o Tribunal de Contas da União, com a ajuda de investigadores suíços e americanos, produziram, desde o começo da operação Lava-Jato terabytes de evidências que implicam direta e indiretamente o ex-presidente na prática de crimes graves. Lula foi acusado de ser o comandante máximo da propinocracia que definiu os seus mandatos presidenciais, desfalcando os cofres públicos em bilhões de reais e arruinando estataais, especialmente a Petrobras.
Nas últimas horas, a defesa do ex-presidente fez apelos para que o depoimento de hoje fosse adiado, alegando não ter tempo suficiente para analisar documentos da Petrobras relativos ao caso que deveriam ser juntados à ação penal. Os advogados afirmam que haviam pedido documentos da Petrobras relativos à acusação e que o material só foi levado ao processo a partir de 28 de abril. Dizem que são 5.000 documentos, com cerca de 100 mil páginas ou 5,42 gigabytes que estão sem índice e foram encaminhados de forma desorganizada. Não obstante, o Tribunal Regional Federal da Quarta Região manteve o depoimento em Curitiba, para onde têm se deslocado caravanas de trabalhadores, filiados e simpatizantes do PT, arrebanhados por centrais sindicais e outras entidades. Em guerra de vídeos, o ex-ministro Gilberto Carvalho, que foi chefe de gabinete de Lula na presidência, pediu que os militantes petistas viajassem a Curitiba. Sergio Moro pediu que não.
Dirigentes petistas presentes em Curitiba para acompanhar o depoimento de Lula afiançam que o ex-presidente “está animado até demais” para falar ao juiz Moro. “Ele está muito preparado e confiante”, resumiu Gilberto Carvalho. Outros relatam até receio de que Lula tenha um rompante e parta para o enfrentamento com o magistrado durante a audiência. “Moro levou para a seara política e, desculpe, quem faz política melhor é Lula”, argumenta a senadora Gleisi Hoffmann, favorita para assumir a presidência do PT no segundo semestre. Um juiz do TRF em Porto Alegre determinou a reintegração de posse de parte do terreno onde o MST montou acampamento para promover atos em defesa do ex-presidente em Curitiba. A área pertence à empresa All América Latina Logística Malha Sul. A decisão, que serve como mandado judicial, foi tomada ontem à noite e com determinação de urgência pelo magistrado. Pelas regras definidas, duas câmeras, uma com foco em Lula e outra lateral, em toda a audiência, filmarão o depoimento e o que mais acontecer. A gravação será disponibilizada após a audiência em processo.
Nonato Guedes