O cipoal de contradições no depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sergio Moro, ontem, em Curitiba, já era esperado. Faz parte do ritual que Lula incorporou à sua vida pública, no sentido de negar fatos que são evidentes, ora tratando-os como desimportantes, ora tratando-os como invencionices. O primor de contradições ficou refletido em Curitiba nas sucessivas indagações sobre o tríplex do Guarujá. Lula perdeu-se em datas, valores e até observações ao ponto de demonstrar que esse é um assunto definitivamente traumático para ele. Por mais que tente invocar inocência, mais o ex-presidente se enrola e dá margem a indícios de implicação com tramas danosas ao erário público.
O depoimento de ontem foi didático para que a Justiça pudesse instruir com normalidade os processos instaurados contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas acabou tendo uma outra utilidade impactante: a de desmascarar as relações incestuosas do ex-presidente da República com traficantes do dinheiro público que estavam alojados no Partido dos Trabalhadores, em empreiteiras com quem o governo negociava e em cargos estratégicos numa estatal relevante para o Brasil como a Petrobras. É possível que de sã consciência o ex-presidente não tenha noção da importância da Petrobras para o Brasil e para o povo brasileiro.
Foi por não ter essa noção que ele deixou as coisas correrem frouxas, passando a mão na cabeça de figuras que como presidente nomeou para tomar conta da estatal e às quais se refere hoje com palavras que as detratam. O raciocínio de Lula é centrado numa nota só: ele foi traído, ele não sabia de nada, etc, etc. Uma cantilena que remonta ao mensalão, onde reconhecidamente foi advertido por vários políticos, a partir de Miro Teixeira, e além de não tomar nenhuma providência ainda veio dizer, posteriormente, que de nada sabia. A pantomima de Lula cansou porque a maior parte da sociedade brasileira quer explicações concretas – e em troca é servida com mentiras inomináveis, com escusas, com meneios, atitudes de quem não tem compromisso ético com a própria biografia. Aliás, Lula demonstrou até pouco interesse em preservar a memória de sua companheira dona Marisa Letícia, que faleceu em meio às pressões vividas pela família na esteira de investigações policiais. Lula não foi minimamente cavalheiro com a memória de dona Marisa.
É este o homem que quer voltar ao governo e que apela ao povo para que o carregue nos braços porque é “o cara”, é o líder mais popular da história do Brasil, porque é a alma mais honesta, pura e inocente do imenso território brasileiro. O depoimento foi interessante para mostrar que Lula não aprendeu nada e que só aproveita as lições que lhe interessam, de preferência em seu próprio benefício. Tal perfil confere com o personalismo que medeia sua personalidade enquanto o projeto de Brasil vai pelos ares. Orquestrou-se, ontem, a partir do PT, um palanque para Lula, como forma de preparar a sua volta em 2018.
No Brasil nada é impossível e é nessa leniência que Lula aposta para voltar ao poder como herói. Para fazer mesmo o quê? Nem adianta “puxar” muito pelo ex-presidente em termos de definição do que ele planeja do País que governou por dois mandatos. Lula deseja mesmo é tumultuar, complicar a vida institucional do país. E rir na cara de juízes, promotores, ministros, políticos, jornalistas. Se possível, rir do povo – que o idolatra como a um deus tupiniquim. Salvou-se alguma coisa, pelo menos. Salvou-se o princípio de que a lei é para todos. Ou seja, de que ninguém está acima da lei.
Nonato Guedes