Em 2003, na condição de líder do Bloco de Oposição ao governo Lula, o então senador paraibano Efraim Morais, que era filiado ao PFL, hoje DEM, desencadeou fogo cerrado contra a reforma da Previdência proposta pela gestão petista. Quando a matéria ainda tramitava na Câmara, o então senador qualificou o texto como “samba de crioulo doido”, aludindo a uma expressão do humorista Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto, para comentar mudanças constantes introduzidas por pressão de segmentos influentes. Posicionou-se contrário à taxação dos inativos e revidou declarações do presidente Lula de que somente Deus poderia barrar as reformas. “Elas agridem o sentimento democrático do povo brasileiro e ferem a Constituição Federal, que afirma a independência e harmonia entre Poderes da República”.
Morais, que exerceu apenas um mandato senatorial, de 2003 a 2011 e chegou a ser primeiro-secretário da Mesa, curiosamente foi quem empossou Lula na presidência da República na primeira gestão, na qualidade de presidente da Câmara Federal, a que ascendeu com a renúncia de Aécio Neves para assumir o governo de Minas Gerais. Efraim, atualmente, é secretário de Governo do socialista Ricardo Coutinho na Paraíba e tem um filho, chamado pelos íntimos de “Efraito” como deputado federal. Quando senador, Efraim Morais articulou a criação da CPI dos Bingos, ironizada pelo presidente Lula como “a CPI do fim do mundo”. O deputado Efram Filho esteve na linha de frente, há um ano, do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A frase de Lula de que “não tem cara feia, não tem Congresso ou Judiciário que impeça as reformas” levou o senador Efraim Morais a compará-la a gestos expressões de alguns dos mais famosos ditadores da história, como Hitler, Stalin e Mussolini.
Na época em que esteve como senador, Efraim apoiou o governo do tucano Cássio Cunha Lima na Paraíba, mais tarde rompendo com ele e se aliando a Ricardo Coutinho. Vigoroso nos pronunciamentos desancando o governo Lula, por várias vezes Morais pediu coerência política do então presidente e de sua equipe. Na atual conjuntura, o deputado Efraim Filho apoia o governo de Michel Temer (PMDB) mas toma posições críticas quando julga necessário. Opõe restrições, por exemplo, ao formato original da nova reforma da Previdência em discussão no Congresso Nacional. De outra feita, Efraim Morais classificou o governo Lula como “esquizofrênico”, alertando que temia pelo País. “O governo se elegeu acenando com um país melhor mas na prática apenas agravou o quadro preexistente”, sublinhou na tribuna. Morais dirigiu estocadas a ministros como José Graziano, da Segurança Alimentar, que afirmou que o êxodo de nordestinos para São Paulo apenas contribuía para agravar a escalada de violência naquele Estado. “Esta é uma postura claramente preconceituosa, discriminatória”, protestou Morais, adiantando que o recuo de Graziano diante do que afirmara não reparava a infelicidade por ele cometida.
As divergências constantes entre expoentes da equipe do governo Lula provocaram da parte de Efraim a observação de que apenas contribuíam para deixar o mercado confuso. Além de propor no PFL que o partido votasse contra a taxação dos inativos, Morais sugeria a mesma posição quanto ao aumento da carga tributária. “Não vamos fechar questão, mas esperamos bom senso”, esclareceu em 2003. A mídia sulista destacou na época que a oposição começava a ganhar fisionomia no Congresso Nacional. E Efraim carregava nas tintas afiançando que nenhuma das promessas de mudança sinalizadas por Lula quando candidato havia sido cumprida, “com isto desmoralizando-se a imagem da administração perante o eleitorado e a opinião pública em geral”. No livro “Mídia – Da posse de Lula à oposição a seu governo”, Efraim admitiu que ao dar posse ao petista, mesmo sendo de um partido contrário a ele, protagonizou um dos momentos mais expressivos da recente história política brasileira. Presidente do diretório estadual do Democrata, Efraim tem base política em Santa Luzia e no Vale do Sabugy, mas estadualizou sua imagem com a sua participação na disputa senatorial, em que era mencionado como azarão e logrou sair vitorioso.
Nonato Guedes