Não adianta brigar com os fatos. O governador Ricardo Coutinho faz uma gestão razoável na conjuntura instável que o país enfrenta mas a verdade é que ele não tem uma candidatura competitiva para lançar à sua sucessão em 2018. Essa versão de alguns aliados do governador de que o eleitorado vai votar num projeto que está dando certo é conversa para boi dormir. O grande desafio com que Ricardo tem lutado na sua trajetória política é o de transferir votos. Esse mecanismo é geralmente complexo, complicado – em alguns casos, impossível.
Tome-se o exemplo das eleições para a prefeitura de João Pessoa em 2012 e 2016, com Ricardo Coutinho empalmando o Executivo estadual. Em 2012 ele apostou num balão de ensaio chamado Estelizabel Bezerra, até então conhecida pela condição de jornalista e pelo seu ativismo político no agrupamento dos girassóis, sem ter passado, contudo, pelo teste da urna. Talvez Ricardo tenha focado em Estela, além da identificação recíproca, como corolário do fato de que a nível nacional uma mulher, Dilma Rousseff, foi eleita presidente da República. Estela teve performance exemplar e surpreendente em debates, entrevistas e no Guia Eleitoral, mas foi só isso. Na hora da onça beber água, quando os votos começaram a ser contados, a candidata “in pectoris” do governador não lograra passar para o segundo turno. Ficou estacionada no primeiro, ainda que tivesse votação superior à do hoje senador José Maranhão, que concorreu pelo PMDB. O eleito foi Luciano Cartaxo, na época abraçado ao PT.
O segundo turno da disputa de 2012 em João Pessoa refletiu a polarização nacional entre PT e PSDB, tanto que o adversário de Cartaxo na rodada decisiva foi o então senador tucano Cícero Lucena, que, inclusive, fora prefeito da Capital por dois períodos. Em 2016, Cartaxo enfileirou-se para concorrer à reeleição, como é praxe entre os políticos brasileiros, mas a esta altura já estava desgarrado do PT, amaldiçoado por parcelas influentes da sociedade devido ao envolvimento em escândalos como o do mensalão, do petrolão e outros mais. Cartaxo migrou para o PSD, uma legenda insípida e inodora no cenário político nacional, curiosamente mais parecida com seu perfil de descompromisso ideológico mais forte. O esquema do governador continuou apostando no segmento feminino – e desta feita a ungida foi a professora universitária Cida Ramos, mais articulada e engajada com os movimentos sociais. Teve um desempenho pífio, melancólico. Cartaxo liquidou a fatura no primeiro turno, após ter agregado partidos como o PMDB de Maranhão e o PSDB de Cássio – uma frente ampla, heterodoxa, para ninguém botar defeito.
A reeleição de Luciano em primeiro turno projetou, inevitavelmente, o seu nome como candidato das oposições ao governo do Estado em 2018. Mas não há consenso sobre isto – e já há aliados remanescentes da composição de 2016 defendendo que a oposição tenha mais de um candidato ao governo no próximo ano – talvez o senador Cássio Cunha Lima ou o prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, pelo PSDB. E o governador, como fica? Ninguém sabe. Tentou repetir a tática de balões de ensaio, deixando fluir como alternativa o secretário de Infraestrutura, João Azevedo, que é um técnico, não um político, e chegou a se preparar para disputar a prefeitura da Capital, inutilmente. Abstraindo Azevedo, o governador teria Estelizabel Bezerra, mas é duvidoso que ela estadualize imagem em pouco tempo. O deputado Gervásio Maia, embalado pela eleição a presidente da Assembleia, chegou a ser cogitado para disputar o governo, mas parece ter entendido que talvez não seja esta a sua grande chance, de modo que persegue outros objetivos para 2018.
Restam a vice-governadora Lígia Feliciano, do PDT, que ficaria bastante honrada se fosse adotada como candidata ao governo, e o deputado federal Veneziano Vital do Rêgo, que está de malas arrumadas para deixar o PMDB por não conseguir espaço para ser candidato ao governo. E disposto a ingressar no PSB na esperança de ser ungido por Ricardo. São opções colocadas dentro da perspectiva de uma candidatura partidária, do PSB, como chegou a ser defendida por Nonato Bandeira, que é presidente do PPS. Se não vingarem essas alternativas, o governador vai ter que se compor com um nome extra-partidário – significa dizer: apoiar candidatura de outra agremiação com quem estiver afinado. Este é o cenário de hoje, porque política é dinâmica e no Brasil é imprevisível demais até. Convém aguardar os desdobramentos da conjuntura local, onde muitos se dizem postulantes apenas para se valorizar, mas na hora H batem pino. Para Ricardo, sobra a expectativa de vir a se defrontar de novo com o bicho-papão da transferência de votos. Este, o dilema maior.
Nonato Guedes