De há muito tempo as coisas não se resolvem na base da bravata no Brasil, de forma que foi inócua a postura do presidente Michel Temer dizendo, enfaticamente, que não renunciará à suprema magistratura da Nação, apesar de gravações de conversas e telefonemas que o incriminam na falta de decoro à frente do cargo. O ex-presidente Lula também fez uso da bravata, reiteradas vezes, no depoimento ao juiz Sergio Moro em Curitiba. Já havia recorrido antes ao expediente, quando comparou que “tentaram matar a jararaca mas se deu mal”. Lula e Temer são símbolos de uma fotografia que muita gente não quer mais colocar na parede.
Em relação a Michel Temer, independente de ser apeado ou não do cargo, é certo que acabou o governo que empalmava desde o impeachment de Dilma Rousseff. Aliás, para sermos sinceros, não era propriamente um governo, mas um “governicho”, qualificativo que se justifica pela mediocridade com que a gestão tem se portado, incapaz de avançar nas conquistas que a sociedade reivindica e teimando em ficar na contramão da onda mudancista, de que são exemplos as reformas trabalhista e previdenciária, amplamente repudiadas por setores majoritários da sociedade brasileira.
Para sermos honestos, a massa formadora de opinião que subsiste na sociedade brasileira nunca apostou fichas em Michel Temer. Ele foi tolerado no cargo diante do pretexto de se fazer cumprir a Constituição, que reza que nos casos de impedimento de titulares assumem substitutos naturais, em primeiro lugar vices-presidentes, no caso do Executivo. Mas antes da delação do executivo da JBS, que põe o rei a nu, Temer já tinha um encontro marcado com a Justiça: até o meio do ano haverá o julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE, referente à campanha de 2014, e o entendimento do ministro relator, o paraibano Herman Benjamin, é no sentido da cassação da chapa geminada, não apenas de Dilma. Seria o tiro de misericórdia nas ambições mesoclianas do lente Michel Temer, que posa de frade sem ser frade e nem por isso se deixa enrubescer.
O que deveria ter proliferado no vácuo do impeachment de Dilma Rousseff era a convocação de eleições diretas para presidente e vice da República. A permanência de Temer não foi absorvida por grande parte da população brasileira diante da ausência de credibilidade e de propostas afirmativas para o Brasil em tempo recorde. Nos últimos dias, sem suspeitar do que estava lhe aguardando, Temer vestiu o figurino de candidato à reeleição em 2018. Depositou fichas numa suposta retomada do crescimento econômico, espécie de “milagre” que na realidade não existe. O governo de Temer é uma piada internacional, convenhamos.
O enredo do processo que a Nação acompanha está muito claro na cabeça pensante brasileira: Lula deve ser preso, Temer deve sofrer impeachment, Dilma deve acrescentar ao seu currículo a inelegibilidade. E outros políticos que estão envolvidos em irregularidades e ocupando cargos importantes na hierarquia do poder devem ser defenestrados dos mandatos – como foi feito com o senador tucano Aécio Neves, que não honrou o sobrenome nem a herança política deixada pelo avô Tancredo de Almeida Neves, símbolo de esperança num momento conturbado da conjuntura nacional. Não há mais nada que possa traumatizar a sociedade. Se este é o receio diante de um impeachment de Temer, deve ser eliminado. Temer é apenas uma figura decorativa, um ator político de menor grandeza. O Brasil anda muito melhor sem ele.
Nonato Guedes