O senador paraibano Cássio Cunha Lima (PSDB), vice-presidente do Senado Federal, visitou hoje o senador licenciado Aécio Neves e, na saída, revelou a jornalistas que ele está preparando sua defesa diante das acusações do empresário Joesley Batista, da JBF, de que ele teria recebido propina em campanhas eleitorais recentes. Cunha Lima, abordado por repórteres de jornais e emissoras de televisão, observou que o parlamentar mineiro está tranquilo mas interessado em fazer valer o contraditório por entender que é inocente.
Diante da eclosão das denúncias, Aécio tentou se explicar argumentando que, na verdade, havia pedido dinheiro ao empresário a título de empréstimo para pagar despesas de disputas eleitorais. Ele foi convencido, porém, por “cardeais” tucanos como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que deveria renunciar à presidência nacional do PSDB, já que iria se ocupar, além da sua defesa, com a soltura e defesa da sua irmã, a jornalista Andrea Neves, de 58 anos, presa em Belo Horizonte quando tentava embarcar para Londres. Andrea foi uma das principais conselheiras do irmão desde as primeiras incursões dele na política, nos anos 1980. Ela cuidou pessoalmente da imagem de Aécio e assumiu a área de comunicação do governo de Minas Gerais, bem como a interlocução com empresários, nas duas gestões do tucano.
Sua atuação a fez temida e respeitada por aliados e também a colocou em rota de colisão com os opositores de Aécio, que a acusavam de praticar censura ao pressionar veículos de comunicação críticos à gestão do então governador, de acordo com revelações da revista VEJA. Aécio havia sido citado na delação do ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Junior, um dos 78 executivos da empreiteira a firmar acordo de delação com a Justiça, Em seu depoimento, BJ, como é conhecido, afirmou que a construtora baiana fez depósitos para o parlamentar em conta sediada em Nova York, operada por sua irmã e braço-direito Andrea Neves. De acordo com BJ, os valores foram pagos como “contrapartida” ao atendimento de interesses da construtora em empreendimentos como a obra da Cidade Administrativa do governo mineiro, realizada entre 2007 e 2010, e a construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio, no Estado de Rondônia, de cujo consórcio participa a Cemig, estatal mineira de energia elétrica.
O senador Cássio Cunha Lima foi governador da Paraíba ao tempo em que Aécio Neves administrou Minas Gerais. Os dois aprofundaram laços na convivência no Senado Federal, onde Cássio substituiu a Aécio na liderança da minoria em oposição ao governo de Dilma Rousseff. Em 2003, como presidente em exercício da Câmara, o então deputado federal paraibano Efraim Morais deu posse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Efraim era o primeiro vice da Câmara e foi alçado à titularidade com a renúncia de Aécio Neves para assumir o governo de Minas Gerais, na sua primeira passagem pelo cargo. Em 2014, Aécio disputou a presidência da República contra Dilma, sendo derrotado no segundo turno. Antes das denúncias que eclodiram contra ele, o neto do ex-presidente Tancredo Neves vinha se firmando como principal liderança da oposição ao governo petista, e com o impeachment de Dilma tornou-se figura expressiva, embora atuando nos bastidores no governo de Michel Temer. Benedicto Junior, da Odebrecht, era amigo de Aécio e frequentemente era visto jantando com ele no Rio. Na Odebrecht, tornou-se uma espécie de diretor informal do famoso “departamento da propina”, cuja existência só foi descoberta depois que a Polícia Federal achou, em seu escritório, planilhas com valores associados ao nome de mais de 200 políticos.
Nonato Guedes