Em meio a um clima de instabilidade política bastante grave no país, com repercussão negativa no exterior, o presidente Michel Temer (PMDB), fez pronunciamento garantindo que não renunciará ao cargo e que faz questão de ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal porque não tem nada a esconder. Temer foi denunciado por empresários da JBS como avalista da compra do silêncio do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, quanto ao pagamento de propinas em campanhas eleitorais recentes. Com sua atitude, o presidente ignorou apelos de líderes como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para que renunciasse como forma de contribuir para a normalidade institucional do país.
O ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, homologou a delação premiada dos proprietários do grupo JBS, controlador do frigorífico Friboi, os irmãos Joesley e Wesley Batista, o que dá validade jurídica ao acordo e permite novas investigações com base nos relatos. Além de documentos, há gravações e vídeos feitos pelos delatores e também pela Polícia Federal no caso. Foi com base nas delações dos empresários que Fachin autorizou a abertura de um inquérito para investigar o presidente da República e determinou o afastamento do senador Aécio Neves (PSDB) e do deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PSDB-SP) dos mandatos. Ao comentar a crise, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou: “O país tem pressa. Não para salvar alguém ou estancar investigações, mas para ver na prática medidas econômico-financeiras e sociais que ofereçam segurança, emprego e tranquilidade aos brasileiros”.
Temer, que assumiu quando do impeachment de Dilma Rousseff, agora convive com ameaças de um processo idêntico e articulações para a convocação de eleições diretas para um mandato-tampão, cujas regras teriam que ser definidas. Ele ressaltou, porém, que as gravações são clandestinas e que não tem nada a esconder, por isso não precisa de foro privilegiado. Horas antes do pronunciamento, o STF autorizou abertura de inquérito contra o peemedebista. Em sua defesa, o presidente asseverou: “Não comprei o silêncio de ninguém, porque não temo nenhuma delação premiada. Não preciso de cargo público nem de foro especial. Não tenho nada a esconder. Sempre honrei meu nome e nunca autorizei que o utilizassem indevidamente. Por isso, quero registrar enfaticamente que investigação pedida pelo STF será território onde surgirão todas as explicações”. A Folha de São Paulo revela que Temer entrou com requerimento no STF pedindo ao ministro Fachin acesso à íntegra das gravações de Joesley Batista. O presidente enfatizou os índices econômicos em recuperação para dizer que não se pode “jogar no lixo” todo o trabalho feito pelo seu governo. “A revelação de conversas gravadas clandestinamente trouxe de volta os fantasmas da crise política ainda de proporção não dimensionada. O imenso esforço de tirar o país da recessão pode se tornar inútil. Não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho feito ao país”, disse Temer.
Nonato Guedes, com agências