A presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, afirmou, ontem, a jornalistas, que acompanha com preocupação a crise política e institucional do país e lamenta o impacto que ela provoca, mas descartou a hipótese de assumir eventualmente a cadeira ocupada pelo presidente Michel Temer (PMDB). “O Brasil vai sobreviver a esse impasse”, prognosticou Cármen Lúcia, pontuando que está muito bem no papel de magistrada e nele pretende continuar até o último dia de sua gestão.
Cármen Lúcia avaliou que o Judiciário está cumprindo seu papel dentro do que prevê a Constituição e informou que vai dar seguimento à pauta de apreciação de processos de repercussão geral em tramitação na Corte Suprema. Ontem, o PSB devolveu ao governo federal o ministério das Minas e Energia, que era exerciddo por indicação do partido. Líderes partidários ressaltaram que as próximas 72 horas serão decisivas para o futuro do presidente Michel Temer e vão permanecer em Brasília no final de semana para acompanhar o que chamam de “decantação” da crise. As acusações de Joesley Batista, dono da JBS, foram tidas como graves, mas há uma postura de expectativa diante da possibilidade de que áudios gravados tenham sido editados.
O PSDB e o DEM decidiram que se a tendência da maioria for pelo rompimento com o governo do presidente Michel Temer tomarão, juntos, esse caminho. O PSDB nacional passou a ser comandado por Tasso Jereisssati, depois que Aécio Neves renunciou para preparar sua defesa diante das acusações de recebimento de propina. O presidente do Democratas, José Agripino Maia (RN), admitiu que poderá se manifestar, no domingo, sobre a conjuntura, em articulação com o PSDB. O jornal “O Globo”, em editorial, sugeriu a renúncia do presidente Michel Temer alegando que ele não tem mais condições de dirigir os destinos do país. O editorial levou o senador Lindbergh Farias, do PT-Rio de Janeiro, a fazer um comentário irônico e provocativo: “Sem O Globo o presidente da República não tem como sobreviver”.
O presidente fez consultas diretas ao presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf, e ao presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Braga, sobre a reação do empresariado ao escândalo JBS, ouvindo a resposta de que o momento é de apreensão e incerteza para a indústria, o comércio e a população. Conforme interlocutores de Temer, apesar dele achar que “a montanha pariu um rato”, referindo-se ao teor da sua conversa com Joesley, passou a examinar com os ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha saídas honrosas se a situação piorar. O presidente já teria esboçado as entrelinhas do arrazoado que apresentará ao Supremo Tribunal Federal para se manter no cargo. Ele pretende resistir até onde for possível, disseram fontes da sua confiança.
Em sua coluna “Esplanada”, que é reproduzida pelo “Correio da Paraíba”, Leandro Mazzini informa que o senador afastado Aécio Neves tentou insistentemente falar com ministros que participavam de reunião de emergência no Palácio do Planalto na quarta-feira, após a bomba do vazamento da delação do dono da JBS. Neves, porém, foi ignoradi até pelo colega de partido Antônio Imbassahy, ministro-cheefe da Secretaria de Governo. O deputado Carlos Marun, do PMDB do Mato Grosso, foi o único parlamentar da base a subir à tribuna para defender Temer. Seu argumento foi o de que tem dúvidas sobre a veracidade dos áudios de cconversas do dono da JBS.
Nonato Guedes, com agências