O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, em reunião concluída na madrugada deste domingo, resolveu impetrar junto à Câmara dos Deputados, nos próximos dias, pedido de impeachment do presidente da República Michel Temer, por crime de responsabilidade, com base em denúncias feitas pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, gigante mundial de carne processada, de que o presidente teria dado aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, preso há sete meses em Curitiba. Temer é acusado, ainda, de conduta inadequada ao receber delatores em audiência, altas horas da noite, na residência oficial da presidência da República, em Brasília, sem registro da presença dos convidados. Foi numa dessas ocasiões que Joesley gravou uma demorada conversa com o presidente, na qual foram tratados assuntos considerados “pouco republicanos” e antiéticos.
Ontem, o presidente Michel Temer voltou à televisão para desmentir as acusações feitas contra ele e reiterar que não pretende renunciar ao cargo por entender que não cometeu crime algum. O presidente tentou sensibilizar a população com o argumento de que o país já pode comemorar bons números da economia, além de acenar com a retomada de postos de trabalho que estavam desativados devido à retração do mercado com a incerteza da conjuntura nacional. Para líderes oposicionistas e adversários de Temer, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a situação do atual governante é insustentável. A previsão é de que hoje ocorram movimentos de rua reivindicando a convocação de diretas-já com a consequente renúncia de Michel Temer. A mobilização conta com o apoio de forças políticas de esquerda e de segmentos sem vinculação partidária ou ideológica, mas revoltados com o cenário atual no país.
A estimativa é de que pelo menos dez pedidos de impeachment de Michel Temer foram protocolados junto à Mesa da Câmara Federal, presidida pelo deputado Rodrigo Maia, do DEM, a quem cabe decidir se aceita ou não. O pedido considerado mais forte será o da OAB, inteiramente baseado em argumentos jurídicos. Líderes partidários decidiram permanecer em Brasília neste final de semana preparados para qualquer eventualidade, inclusive a de renúncia do presidente Temer, a despeito dele ter afirmado enfaticamente que não cederá a pressões e governará até o último dia do mandato, A avaliação que se faz é a de que Temer está ficando cada vez mais isolado politicamente, com a retirada do apoio de partidos políticos que até agora estavam na sua base de sustentação. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, aconselhou Temer a renunciar. A crise tem repercussão internacional e é acompanhada com preocupação por governos de vários países e por órgãos influentes nas definições políticas e econômicas.
A semana que se inicia amanhã promete ser tensa e imprevisível em Brasília com o retorno das atividades do Congresso Nacional na terça-feira. Está prevista a votação de temas polêmicos como as reformas trabalhista e previdenciária. O ponto mais explosivo em discussão, porém, será o futuro do presidente Michel Temer, a partir do pedido de abertura de inquérito que será encaminhado pelo ministro Edson Fachin para investigar o mandatário. O PSB já desembarcou da base governista e nos demais partidos as discussões estão sendo aprofundadas em regime de urgência diante do agravamento da crise e da necessidade de serem oferecidas respostas à sociedade brasileira.
Nonato Guedes