O deputado federal paraibano Aguinaldo Ribeiro (PP). líder do governo na Câmara, prometeu ao presidente Michel Temer que se empenhará para que o Legislativo mantenha a normalidade diante da crise institucional e que agilize a aprovação das reformas trabalhista e previdenciária, encaminhadas pelo Planalto à apreciação do Congresso. Temer reuniu-se no domingo, no Palácio da Alvorada, em Brasília, com 17 ministros, 23 deputados federais e seis senadores, para avaliação dos efeitos provocados pela delação do empresário Joesley Batista, da JBS, acusando o presidente da República de cumplicidade com o pagamento de propinas a políticos em troca do seu silêncio sobre supostos escândalos na gestão federal.
O presidente, que já fez pronunciamentos pela televisão afirmando que não renunciará ao cargo e desqualificando o áudio de conversas com Joesley, gravadas pelo empresário e consideradas comprometedoras, mas que Temer afirma terem sido editadas, desabafou, ontem, no Alvorada, que está profundamente abalado com o que está se sucedendo e chamou Joesley de “rematado delinquente” por ter premeditado a gravação das conversas que prejudicam Temer. De acordo com o presidente, o executivo da JBS buscou orientação de um juiz e um procurador sobre como proceder para gravar Temer. Ainda assim, teriam sido cometidos erros primários de edição dos áudios, conforme resultados de perícia solicitada pelo presidente da República.
Havia a expectativa de um quórum maior de presentes no Palácio da Alvorada em pleno domingo para a conversa com Temer, mas vários parlamentares e ministros justificaram não ter chegado a tempo a Brasília para participar do encontro de solidariedade ao presidente. O senador Eunício Oliveira, presidente do Senado, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, compareceram e se comprometeram a articular soluções negociadas que evitem prejuízo à governabilidade. A previsão nos meios políticos é de que esta semana recomece o bombardeio contra o governo Temer, com a decisão sobre o pedido de impeachment de Temer protocolado pela Ordem dos Advogados do Brasil, sob alegação de que ele praticou crime de responsabilidade e de prevaricação, ao não agir diante de denúncias que lhe foram feitas sobre irregularidades e pagamento de propinas por parte de agentes públicos federais.
A iniciativa da OAB se soma a uma dezena de outros pedidos de impeachment que deram entrada na Mesa Diretora da Câmara Federal, mas é considerada a de maior repercussão devido ao peso político da entidade na conjuntura nacional e à influência decisiva que ela teve em mobilizações recentes da sociedade civil, inclusive, na campanha da convocação imediata de eleições diretas para presidente da República. O clima é de apreensão em Brasília, mas o PSDB, onde o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso havia proposto a renúncia de Temer, não oficializou, ainda, o rompimento com o governo nem o “desembarque” simbolizado pela devolução de ministérios e cargos federais ocupados por integrantes da legenda. Versões indicam que Fernando Henrique teria telefonado nas últimas horas para Temer, tentando colocar panos mornos na divergência com o presidente da República. Líderes partidários retomam a partir de hoje reuniões formais para definição de posicionamentos que serão adotados face à realidade que emergiu das delações premiadas de executivos da JBS nos últimos dias.
Nonato Guedes