A deputada federal Luíza Erundina, do PSOL-SP, voltou a tomar a presidência da sessão na Câmara dos Deputados, em meio ao tumulto verificado nas últimas horas em Brasília, com manifestações contra o governo do presidente Michel Temer, agravadas pela requisição por Temer de tropas federais a pretexto de manter a ordem pública. Erundina, que é natural da cidade paraibana de Uiraúna e já foi prefeita de São Paulo, liderou um grupo de parlamentares insatisfeitos com Temer e favoráveis ao seu afastamento do cargo, sobretudo depois que veio a público a gravação da conversa mantida por ele com o empresário Joesley Batista, do grupo JBS.
Os trabalhos estavam sendo conduzidos pelo deputado André Fufuca, do PP do Maranhão, mas ele foi apeado da poltrona do comando da Casa que é presidida pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). Erundina declarou que Michel Temer não tem mais condições éticas ou morais para se manter no cargo e que sua permanência apenas contribui para piorar o impasse institucional vigente. Para Erundina, por interferência do Planalto, o presidente Rodrigo Maia e outros integrantes da Mesa Diretora tentam aparentar um clima de normalidade, deixando de encarar os desafios pela frente, entre os quais a própria hipótese de cassação de Temer, quando do julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer previsto para junho no Tribunal Superior Eleitoral.
Fontes políticas ligadas ao governo Temer confidenciaram a jornalistas que há receio no Planalto de uma debandada geral de parlamentares das hostes oficiais. O chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que antes estava empenhado na contabilidade de votos para a aprovação da reforma da Previdência, um tema que suscita controvérsias na classe política, se debruça agora sobre o mapeamento de parlamentares da base propensos a abandonar o governo. Além do DEM e do PSDB, o governo está preocupado com o posicionamento do PP, que até agora se mostra indeciso e dividido. O deputado federal paraibano Aguinaldo Ribeiro, do PP, é o líder do governo na Câmara mas já demonstrou que não tem controle sobre os votos em plenário nem sobre a sorte das matérias em apreciação. O ministro Eliseu Padilha teria delegado ao presidente do PP, senador Ciro Nogueira, a tarefa de segurar o grupo que ameaça debandar.
Nonato Guedes