É cada vez mais sólida nos meios políticos, em Brasília, e também em meios jurídicos, a convicção de que o presidente Michel Temer dificilmente concluirá o mandato que herdou com o impeachment de Dilma Rousseff, de quem era vice, há nove meses. A impressão sobre o destino melancólico de Temer ganhou força depois que ele passou a ser investigado por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça.
A revista “Veja” ouviu 34 parlamentares de maior expressão do Congresso, ocupantes de cargos de líder ou vice-líder de seus partidos. Nada menos que 29 apostaram que Temer não conclui o mandato, havendo divergência sobre o formato da saída do presidente: impeachment, renúncia, afastamento ou cassação.
Temer insiste em que não renunciará. “Se quiserem, me derrubem”, desafiou, numa entrevista ao jornal Folha de São Paulo. O ministro paraibano Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça, é o relator do processo que apura se a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer cometeu abuso de poder econômico e político. Nos últimos seis meses, Herman Benjamin ouviu os depoimentos dos principais delatores da Lava Jato. Nomeado por Lula para o STJ, já emitiu sinais de que votará pela cassação da chapa, incluindo o presidente Temer. No TSE, a ministra Rosa Weber, nomeada por Dilma Rousseff para o STF, é apontada como voto certo contra Temer. Discreta, a pessoas próximas já sinalizou que deverá acompanhar o voto do relator em favor da cassação da chapa, sem livrar o atual presidente.
A Veja informa que na manhã de quinta-feira, 25, em uma conversa informal com Herman Benjamin, relator do processo que pode cassar a chapa, a ministra Rosa Weber especulava sobre o julgamento no TSE no começo de junho após o escândalo da JBS. “Parece que não seremos só nós dois a votar juntos”, disse ela a Benjamin, entre risos. Os ventos, aparentemente, mudaram, Ministros que eram contabilizados no rol de votos a favor de Temer estariam agora inclinados a cassá-lo, premidos pela pressão da crise. O ministro Napoleão Maia, considerado um dos mais leais a Temer, tentou convencer Herman Benjamin a adiar o início do julgamento no dia seis de junho. “Não seria o caso de adiar para não termos de julgar no calor das discussões sobre a delação?”, perguntou Maia.
Herman Benjamin respondeu prontamente: “Não adio nem antecipo porque isso seria casuísmo”. Maia ainda ponderou: “Que você peça vista, então”. Segundo a Veja, isto foi entendido como uma provocação, mas talvez Napoleão peça vista, dando sobrevida ao presidente. Agirá assim em razão de uma rixa pessoal com o relator. Apesar de tudo, fontes bem-informadas ressaltam que pedir vista do processo, em meio às labaredas da crise, requer certa ousadia. “Nenhum ministro terá coragem de interromper esse processo. O TSE é o último limite de controle da crise”, afirma o presidente de um dos maiores partidos governistas. O relator deve defender a realização de eleições diretas para escolha do futuro presidente da República, mas não há consenso sobre essa fórmula.
Nonato Guedes