Viúvas políticas de Lula e Dilma martelam o refrão de que está em curso uma operação midiática e institucional para manter o peemedebista Michel Temer na presidência da República a qualquer custo, ainda que sua gestão esteja sendo desastrosa e não tenha avançado substancialmente, sem falar que se precipitou ao mexer em vespeiros como a reforma da Previdência, uma questão estrutural que somente poderia ser equacionada por um governo mais duradouro e, também, legítimo, de acordo com a tese que circula nas hostes anti-governistas. A revista “CartaCapital”, atrelada a Lula e a Dilma, de cujos governos recebeu régios patrocínios, insinua que o maior obstáculo à emenda das eleições diretas é político e não jurídico.
De acordo com pesquisas que teriam sido realizadas com alto grau de confiabilidade, nove em cada dez brasileiros desejam escolher o próximo presidente da República ainda neste ano, mas tais levantamentos ou sondagens estão sendo olimpicamente ignorados pela elite que se agarraa ao poder a despeito de graves denúncias formuladas contra o presidente Temer e expostas de público nas gravações feitas pelo empresário Joesley Batista. Na prática, há uma queda-de-braço entre os que defendem as diretas-já (que teoricamente beneficiariam apenas o PT e Lula) e os que propugnam a desvinculação de Temer da punição imposta a Dilma Rousseff, o impeachment, ainda que sem perda de direitos políticos, tanto assim que está habilitada a concorrer a senadora ou deputada federal em 2018, como parece ser da sua vontade.
Uma prévia importante nessa queda-de-braço está programada para o próximo dia seis de junho quando o Tribunal Superior Eleitoral julgar se mantém ou não o desmembramento do processo envolvendo Dilma Rousseff e Michel Temer. Mantido o desmembramento, Temer teoricamente ganharia fôlego para perseverar no seu grande objetivo, que é o de se manter na presidência da República, embora não concorra à reeleição em 2018. Em algumas áreas afirma-se que a discussão sobre a legitimidade do governo de Temer estaria ultrapassada, inclusive, por ser fato consumado e de acordo com o que a Constituição estabeleceu para casos emergenciais dessa natureza. Mas juristas e políticos não engrossam uma suposta unanimidade a respeito desse ponto de vista. De concreto, a base governista é acusada de abusar de manobras legislativas para evitar a aprovação de uma emenda constitucional pelas eleições diretas.
Há em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara uma proposta elaborada pelo deputado Miro Teixeira, da Rede, prevendo a eleição direta-já seja qual for o motivo da vacância: renúncia, impeachment ou cassação do mandato pelo Tribunal Superior Eleitoral. A PEC estaria tendo sua tramitação bloqueada na Câmara por artimanhas do presidente Rodrigo Maia, do DEM. “Os aliados de Temer sabem que se a emenda das diretas for à votação, será aprovada. O desgaste político de quem se colocar contra será enorme”, afirma o deputado Alessandre Molon (Rede), autor do primeiro pedido de impeachment protocolado contra o peemedebista após a divulgação do indecoroso diálogo entre o presidente da República e o empresário Joesley Batista. “A última coisa que o Brasil quer é ver o Congresso com grande número de parlamentares sob suspeição, pelas graves denúncias que pesam contra eles, escolher no lugar do povo o novo presidente”, acrescenta o parlamentar.
Divergências políticas e lutas pelo poder à parte, o que a sociedade deseja mesmo é uma solução para o impasse que paralisa o País. É a sensação de paralisia que, na verdade, incomoda brasileiros de diferentes gerações ou de variadas correntes políticas e ideológicas. O impeachment de Dilma Rousseff criou um vácuo de poder tendo em vista que Michel Temer não ofereceu respostas imediatas para os graves desafios que vinham se acumulando. Dá-se, então, o contrário, o extremo oposto do que aconteceu no impeachment de Collor, quando o então vice Itamar Franco surpreendeu agradavelmente o país com medidas de estabilidade econômica refletidas no Plano Real e traduzidas por Fernando Henrique Cardoso e uma equipe de economistas. Sabe-se que uma facção radical do PT se prepara para debater proposta de antecipação de eleições gerais, não apenas para o cargo de presidente mas também para a renovação no Congresso. Daí a grande expectativa sobre o que está sendo tramado, e sobre o efeito que medidas tramadas surtirão. O país, decididamente, não suporta mais qualquer indefinição, porque o tempo urge e as definições são cobradas insistentemente pelo grosso da sociedade. Esta é a radiografia de hoje.
Nonato Guedes