Exercendo uma posição privilegiada no âmbito do Congresso Nacional, com operosidade em comissões temáticas e objetividade na abordagem de temas de interesse da sociedade, o senador paraibano Raimundo Lira (PMDB) destaca-se por outra peculiaridade: mantém-se incólume diante do vendaval de escândalos que pipocam no cenário brasileiro, deixando rastros nos diferentes partidos. Lira não é citado em delações premiadas quanto a recebimento de propinas por parte de empreiteiras ou de outras empresas de negócios. Da mesma forma, passa ao largo das especulações sobre envolvimento com utilização de caixa dois ou recebimento de vantagens processados nesse mecanismo que entrou para o folclore a partir da denominação que lhe foi atribuída pelo ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares: a de “dinheiro não contabilizado”, ou seja, recursos recebidos mas não declarados oficialmente à Justiça Eleitoral nas prestações de contas ou balancetes a que todos estão sujeitos.
“Lira é um político ficha-limpa mas não faz praça disso; não é do seu estilo”, comenta um parlamentar que é próximo do senador peemedebista. Empresário, ele sempre viveu dos recursos amealhados em suas atividades. É conhecido, igualmente, pelo estilo pragmático com que atua na estruturação de suas campanhas e por falar com franqueza diante dos mais diferentes interlocutores. Nunca foi tido como um especialista em atos inescrupulosos e afirmou, certa feita, que não se pode construir nada sólido em cima de bases falsas. Ele surgiu no cenário político paraibano em 1986, quando, contrariando prognósticos, foi eleito senador, destronando do páreo um então campeão de votos, o ex-governador Wilson Leite Braga. A mídia local tratava Lira como um “azarão”, deixando no ar as suas chances viáveis de ascender. Ele fez dobradinha com Humberto Lucena, que foi reeleito. Natural de Cajazeiras, Lira obteve a maior votação da história da Paraíba para o Senado. Em pouco tempo foi alçado à presidência da Comissão de Assuntos Econômicos, uma das mais importantes, por onde passavam negociações de dívidas da União, Estados, Municípios e Distrito Federal, além de ter competência para aprovar nomes indicados pelo governo para cargos na área econômica em órgãos como o Banco Central.
O jornalista paraibano José Nêumanne Pinto, editorialista de “O Estado de São Paulo”, comparou Lira a um dos homens mais importantes da República, por causa dos desafios que tinha que administrar. Concluído o exercício do mandato de senador que havia conquistado nas urnas em 1986, Raimundo Lira voltou-se para a dedicação aos negócios, sem deixar de manter acompanhamento das questões políticas e dos grandes temas nacionais. Voltou ao Senado substituindo Vital do Rêgo Filho, que renunciou ao posto para assumir o cargo de ministro do Tribunal de Contas da União. Lira reencontrou-se, então, com um ambiente onde já havia pontificado. E, como de hábito, alcançou projeção imediata. Ele foi escolhido para ser presidente da Comissão Processante do Impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Atuou à frente da Comissão como uma espécie de magistrado, assegurando amplo direito de defesa à ex-presidente e igualmente respaldando as manifestações arroladas contra a ex-mandatária. Desde que o impeachment foi consumado, Lira tem sido voz auscultada a respeito das decisões que permitam equacionar o impasse político-institucional vigente no Brasil. O estilo sereno e equilibrado que o caracteriza é uma espécie de carta de apresentação do senador junto a autoridades da República, sem falar que ele não deixa de ser um lutador em prol do encaminhamento de reivindicações da população do Estado, como a liberação de recursos para implementação de obras.
O senador Raimundo Lira lamenta as dimensões da crise conjuntural que o país está enfrentando, mas é otimista em termos de solução, exemplificando que a sociedade já vivenciou outros episódios talvez mais dramáticos e saiu-se a contento deles. No Senado Federal, coloca-se à disposição para colaborar no que for necessário. Cogitado para ser candidato a governador e assediado para filiar-se a outros partidos, ele mantém a expectativa de ser candidato à reeleição em 2018 e reafirma o compromisso de permanência no PMDB.
Nonato Guedes