O deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB da Paraíba, voltou a insistir em Brasília, nas últimas horas, no rompimento do partido com o governo do presidente Michel Temer. A declaração foi dada às vésperas do início da retomada do julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, pelo TSE, que desta feita poderá resultar no afastamento do ex-vice-presidente da República sob acusação de práticas ilícitas em conluio com construtoras. Na avaliação de Pedro, que assegura refletir o comportamento das bases que representa, a gestão de Temer perdeu as condições de governabilidade.
De acordo com informações procedentes de Brasília, a posição de Pedro Cunha Lima é majoritária entre os políticos mais jovens da agremiação tucana, que são denominados pela imprensa de “cabeças-pretas”, em contraposição aos mais experientes, entre os quais o senador Cássio Cunha Lima, pai de Pedro e primeiro vice-presidente do Senado Federal. Soube-se que o senador Cássio estaria sendo cobrado pelo Palácio do Planalto para conter os ânimos dos impetuosos parlamentares que querem o desembarque. Até aqui, Cássio tem se preocupado mais em ouvir a respeito do que em externar opiniões mais objetivas.
Já o deputado federal Wilson Filho, do PTB, que é coordenador da bancada fedderal paraibana em Brasília, revelou que defende uma alternativa o quanto antes para a crise institucional que a seu ver vem se agravando no país, com reflexos na conjuntura econômica e social e, pior ainda, no estado de espírito da população, que se encontra sem perspectivas ou esperanças. “O País não pode continuar sangrando”, apregoa o deputado Wilson Filho, adiantando que na hipótese de afastamento do presidente Michel Temer, na esteira da retomada do julgamento da chapa de 2014, a saída natural seria a convocação de eleições diretas. Wilson não faz projeções pessimistas ou alarmistas a respeito do desdobramento da crise. Para ele, a retomada do julgamento da chapa vencedora em 2014 é o derradeiro capítulo de uma situação que gerou instabilidade no país. “Fora daí, não pode vir o pior”, assinalou.
Aumentando o grau de incerteza política, ontem, na véspera do julgamento, a Polícia Federal encaminhou a Michel Temer um questionário com 84 perguntas relacionadas à investigação sobre o inquérito em que o mandatário é acusado de corrupção, obstrução de justiça e formação de quadrilha em virtude de suas ligações com a JBS. O presidente tem um prazo de 24 horas para responder ao questionário. A defesa de Temer considerou a proximidade do prazo com o julgamento do TSE uma tentativa do procurador geral da República Rodrigo Janot de “constranger” o tribunal a condenar Temer. Os advogados avaliam se o presidente vai responder aos questionamentos ou exercer o direito de se manter em silêncio. Cogitam, em paralelo, reivindicar a ampliação do prazo de defesa. Em tese, até quinta-feira os ministros deverão votar se a chapa Dilma-Temer deve ser cassada, se apenas a ex-presidente deve ser punida ou se ambos devem ser absolvidos. O desfecho pode ser adiado caso haja pedido de vistas. Esta é uma das apostas do Planalto.
Nonato Guedes