Fontes ligadas ao governador Ricardo Coutinho (PSB) revelam que a sua insistência em alimentar dúvidas sobre se deixará ou não o governo para concorrer ao Senado em 2018 faz parte de uma estratégia para confundir o grupo liderado pelo senador Cássio Cunha Lima (PSDB) e, ao mesmo tempo, jogar acenos na direção do senador José Maranhão, presidente do PMDB, para sensibilizá-lo a compor aliança com o esquema oficial na disputa majoritária. Ainda ontem, na entrevista ao programa “Sem Censura”, da rádio Pop – Sistema RPN de Comunicação, o governador pontuou que a disputa de cargos não é uma ambição pessoal e disse que de sua parte considera-se realizado, entre outros feitos por ter sido eleito duas vezes ao Palácio da Redenção, bem como duas vezes a prefeito de João Pessoa.
No esquema de Cássio, o prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, reeleito em 2016, tem insistido no lançamento de candidatura própria do PSDB ao governo. Os tucanos fariam composições no preenchimento de candidatura a vice e uma vaga ao Senado, incluindo suplências de senador. Romero deixou claro que estaria disposto a enfrentar o desafio de concorrer, mas tem reiterado que a candidatura preferencial é a do senador Cássio Cunha Lima, pela experiência, liderança política que tem no Estado e pela projeção que está alcançando como representante no Senado Federal. Entre os peemedebistas, o senador José Maranhão tem afirmado que é receptivo à tese da candidatura própria, sem mencionar nomes, mas observa que está igualmente aberto à possibilidade de composições com grupos afins. Maranhão tem evitado críticas ao governador Ricardo Coutinho e, no que diz respeito ao prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, do PSD, tem uma sobrinha, a ex-deputada Olenka Maranhão, ocupando uma secretaria importante na atual administração.
Cartaxo está se ausentando da Capital e do Estado em pleno período junino para participar de um evento na Espanha que possibilita a atração de investimentos destinados a beneficiar João Pessoa. A prefeitura está sendo ocupada pelo vice, Manoel Júnior, do PMDB, que já acionou o senador Maranhão a conseguir destravar recursos nos escalões federais em Brasília. O prefeito Luciano Cartaxo, embora repita constantemente que está focado na agenda administrativa este ano, não esconde informalmente a pretensão de ser candidato ao governo do Estado. Além do trunfo decorrente das ações da máquina administrativa municipal, Luciano tenta comover os peemedebistas acenando com a perspectiva de Manoel Júnior assumir efetivamente a prefeitura da Capital com sua renúncia para ser candidato ao governo. Júnior, uma vez efetivado na titularidade do mandato, poderá sonhar com uma candidatura a prefeito em 2020.
O prefeito de João Pessoa se oferece às oposições como opção nova para o combate ao esquema do governador Ricardo Coutinho e opera com a dificuldade do governador em forjar uma candidatura competitiva dentro do seu esquema para sucedê-lo. Nas hostes de Ricardo, o nome do presidente da Assembleia, Gervásio Maia, chegou a ser cogitado mas saiu de pauta, girando as especulações agora em torno da deputada Estelizabel Bezerra e do secretário João Azevedo. Por conta própria, o deputado Rubens (Buba) Germano, representante do Curimataú e no exercício de uma secretaria de Articulação Municipal no governo, lançou-se como alternativa do esquema ricardista. O nome de “Buba” precisaria ser massificado no Estado, já que ele tem votação localizada, como admitem interlocutores oficiais. No rol das especulações, aventou-se a hipótese de filiação do deputado federal Veneziano Vital do Rêgo ao PSB, onde poderia ter lastro para concorrer ao governo. Ricardo analisa todos esses cenários e tenta conciliar pretensões do “clã” Feliciano, onde o deputado federal Damião Feliciano tenta viabilizar uma candidatura da mulher, Lígia, atual vice-governadora, com o apoio de Coutinho.
Ricardo age antenado com a movimentação política no âmbito nacional depois que líderes do PSB de outros Estados propuseram o seu nome como alternativa para concorrer à própria presidência da República, o que o deixou naturalmente lisonjeado. Até as últimas horas, as atenções do socialista estavam focadas no julgamento do Tribunal Superior Eleitoral que acabou absolvendo a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, vencedora das eleições de 2014. “Não vou permitir que aventureiros tentem chegar ao governo da Paraíba, onde destruirão o trabalho que foi feito na minha primeira gestão e que está tendo continuidade agora”, enfatiza o chefe do Executivo, construindo um raciocínio para convencer aos incrédulos de que pode até permanecer no governo até o último dia do mandato, se for necessário chegar a tanto para presevar o projeto administrativo que, na sua opinião, introduziu avanços na Paraíba. Ricardo também avalia os espaços concretos de composição com o PT que está órfão de representatividade no Estado.
Nonato Guedes