Uma reunião da Executiva nacional do PSDB convocada para esta segunda-feira deverá definir se o partido continua apoiando o governo do presidente Michel Temer (PMDB) ou se oficializa a retirada da base governista, com a devolução de ministérios e cargos do segundo escalão ocupados por expoentes da legenda. Além da decisão crucial de manter ou não o apoio ao presidente da República, o PSDB tentará traçar estratégias para socorrer o senador afastado Aécio Neves (MG) que está, inclusive, ameaçado de prisão por suposto envolvimento em escândalos. A avaliação entre tucanos de fina plumagem em Brasília é a de que o partido está metido numa encruzilhada, pelo risco de desgaste a que se expõe se permanecer alinhado com Michel Temer.
A convocatória para a reunião está sendo expedida pelo presidente interino do PSDB Tasso Jereissati. A maioria dos deputados federais, principalmente os chamados “cabeças pretas”, alusão a jovem parlamentares como o paraibano Pedro Cunha Lima, aparentemente é favorável ao rompimento. Os tucanos que ocupam ministérios por indicação da cúpula são Aloysio Nunes Ferreira, das Relações Exteriores, Bruno Araújo, das Cidades, Luislinda Valois dos Direitos Humanos e Antonio Imbassahy, das Relações Institucionais. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que se encontrava no exterior, antecipou o retorno ao país para acompanhar as discussões dentro da agremiação.
Um eventual pedido de prisão do senador afastado Aécio Neves preocupa fortemente a cúpula do PSDB, diante do impacto negativo que teria perante a opinião pública. A base atual do governo é composta de 347 deputados, sendo 46 deles do PSDB. O debate sobre o desembarque da legenda do governo Temer caminha paralelo ao posicionamento a ser tomado diante da abertura de ação penal contra o peemedebista, no bojo de denúncia que pode ser feita pelo procurador-geral Rodrigo Janot. O PSDB é fiador das reformas propostas ao Congresso pelo presidente Temer. Versões que circulam em Brasília sinalizam que se houver a ruptura dos tucanos com Temer será uma forte baixa moral para o governo. A pressão dos “cabeças-pretas” sobre a cúpula partidária nacional não dá sinais de trégua, agravando o conflito nas hostes do PSDB. Um deputado federal, falando “em off” à Folha de São Paulo, expressou a opinião de que o PSDB ficou dinamitado depois das descobertas feitas pela Polícia Federal sobre a conduta do seu ex-presidente Aécio Neves.
A propósito, líderes tucanos confirmam que o cenário é sombrio para o senador afastado Aécio Neves, que perdeu cacife numa nova corrida presidencial ou até mesmo na disputa ao governo de Minas Gerais. O governador de São Paulo Geraldo Alckmin tenta se credenciar para representar a legenda na sucessão de presidente da República em 2018. Ele, aliás, foi visitado pelo presidente Michel Temer, que lhe pediu colaboração no sentido de aplacar as resistências que pipocam dentro do ninho. A apreensão do PSDB foi reforçada com a constatação de que o presidente Temer ainda está na alça de mira, apesar de ter evitado a sua cassação no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral. Em meio a todos esses problemas, há o desafio de reestruturar a agremiação pelo país com vistas às disputas por governos estaduais. “O partido, praticamente, terá que se reinventar depois das turbulências que tem colecionado”, adverte um parlamentar tucano influente junto à Executiva do partido.
Nonato Guedes, com sites e agências