O presidente Michel Temer lutou com unhas e dentes para se manter na cadeira do Palácio do Planalto, exorcizando as maquinações de adversários políticos e de aliados insatisfeitos, geralmente nos bastidores, para ejetá-lo da poltrona que simboliza o poder e que até então acomodava a primeira mulher eleita à Presidência da República na história do país, Dilma Rousseff. Temer foi arrastado para o inferno astral com o avanço de processos postulando a cassação da chapa originalmente reeleita em 2014, composta por Dilma e por ele, sob acusação de abuso de poder político e econômico. O Tribunal Superior Eleitoral, que tem uma postura errática na apreciação de contenciosos, os quais ficam sujeitos ao humor e aos interesses de ministros – excetuando-se quem vota por estrita convicção jurídica – acusou a pressão para decidir alguma coisa, fosse como fosse, evitando a desconfortável sensação de indefinição que pairou sobre todo o país.
A “blitzkrieg” montada ardilosamente por Temer e pela sua tropa de choque, de que fazem parte ministros e parlamentares envolvidos em processos com denúncias cabeludas de atos ilícitos, etc, etc, surtiu efeito. E a providencial mediação de Gilmar Mendes, o desacreditado presidente do Tribunal Superior Eleitoral, para que a chapa não fosse cassada como propôs o digno e corajoso ministro-relator, o paraibano Herman Benjamin, selou o enredo, fechou o pacote e garantiu respiro ou sobrevida ao mandatário peemedebista, já que não foi fechada a torneira por onde escoam pedidos de impeachment, deitados em berço esplêndido nas gavetas do presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, do DEM do Rio de Janeiro.
De qualquer forma, assegurada a sobrevida ao Sr. Temer, a pergunta que se faz, por óbvio, é a que encima este comentário: “E agora, presidente?” A expectativa que ele tentou infundir ou alimentar era a de que precisava apenas de um crédito de confiança para provar que é competente e que pode gerir os destinos do País. Ainda que nuvens plúmbeas estejam no horizonte, o Senhor Presidente ganhou uma das mais cruciais batalhas da sua passagem pelo Poder e está na obrigação de mostrar serviço e competência. Ou seja, provar por A mais B que tem nas mãos a chave que abre portas para reformas consideradas essenciais. E ajustar as velas do governo que comanda para manter o mínimo de estabilidade no contexto das mudanças exigidas pela sociedade. Infelizmente, desconfia-se que Temer não está à altura desses desafios e dificilmente produzirá decisões impactantes que devolvam a esperança ou o sentimento de otimismo ao povo brasileiro.
Temer rege uma administração medíocre. Continua sob suspeita – e, para piorar, é desprovido da grandeza que se exige de estadistas, atributo que não lhe pode ser conferido. A revista Veja dá conta, em matéria de capa, que o ex-vice-presidente de Dilma Rousseff, a partir de agora, sentindo-se de alguma forma revigorado, planeja atacar de frente a Operação Lava-Jato, tanto que até acionou o serviço secreto para investigar o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal. Em resumo: ao invés de concentrar energias numa agenda positiva que o País reclama, o presidente que está aí usará o poder para o mesquinho jogo da retaliação, da política de campanário, da miudeza do compadrio e do acobertamento de malfeitos. De certo modo não é total a surpresa por tudo isso que está sendo engendrado. Mas é lamentável que tenhamos chegado a tanto. Quanto ao Tribunal Superior Eleitoral, enfrenta uma orquestração para extingui-lo. O argumento é simples: é um tribunal desnecessário. Isto é, o País passa muito bem sem o TSE. E até economiza dinheiro para investir em projetos sociais. É o resumo da ópera a dados de hoje!
Nonato Guedes