A hipótese do senador Cássio Cunha Lima (PSDB) trocar a candidatura à reeleição em 2018 por uma candidatura à Câmara Federal não surpreende no cenário político paraibano, onde a história registra exemplos de inversão de posições no jogo eleitoral como estratégia de candidatos para assegurarem a sua sobrevivência política. Cássio estaria levando em conta, conforme versões, a perspectiva de disputa acirrada no próximo ano e de efeitos da atual crise no desgaste de atores políticos de diferentes partidos. Ele teria a opção de concorrer novamente ao governo, até para se reabilitar da derrota que sofreu em 2014 para Ricardo Coutinho. Mas pode reavaliar candidatura majoritária até em virtude da escassez de recursos financeiros, face a uma previsível retração de apoiadores por causa dos escândalos denunciados na imprensa e apurados pela Justiça e Polícia Federal.
O ex-governador Wilson Leite Braga é citado como o maior exemplo de político volúvel, que abriu mão do status de cargos para manter-se em evidência no jogo político. Ele começou sua trajetória como deputado estadual, depois tornou-se deputado federal. Em 1982, elegeu-se governador, derrotando Antonio Mariz por uma diferença de 151 mil votos. Derrotado ao Senado em 86, Braga partiu para cargos menores na hierarquia política: elegeu-se prefeito de João Pessoa em 88 e vereador na Capital em 92, depois que tentou voltar ao governo em 1990 e foi derrotado no segundo turno por Ronaldo Cunha Lima. Wilson encerrou sua carreira política por onde começou – como deputado estadual.
Ronaldo foi o político que logrou ocupar todos os postos da carreira, numa situação rara na conjuntura. Foi vereador e prefeito de Campina Grande, deputado estadual, senador, deputado federal, governador. Ronaldo chegou a ser cogitado como candidato a vice-presidente da República na chapa encabeçada por Orestes Quércia em 94, que acabou derrotada. Em relação à prefeitura de Campina, Ronaldo a ocupou em duas oportunidades. Foi eleito pela primeira vez em 68, mas só durou 43 dias no cargo, sendo cassado pelo regime militar. Em 1982, candidatou-se para retomar o mandato que lhe foi usurpado, Além de vitorioso, ganhou mais dois anos de mandato, beneficiado por uma emenda que prorrogou mandatos a pretexto de fixar uma coincidência no calendário que nunca avançou no país. Como deputado federal, Ronaldo licenciou-se várias vezes, possibilitando a ascensão de suplentes, dentro de uma estratégia para fortalecer o governo do filho, Cássio Caunha Lima.
Se Wilson Braga encerrou a carreira política sem conseguir inscrever um mandato de senador no currículo, Humberto Lucena – que foi presidente do Congresso Nacional por duas vezes – morreu sem ter realizado o sonho de ser governador do Estado. Ele abriu mão, sucessivas vezes, em favor de companheiros históricos de partido, como Ronaldo Cunha Lima, ou para atrair líderes populares que estavam em outros partidos, como Antonio Mariz e Tarcísio Burity. Em 1986, Humberto preparou-se com garra para ser o candidato ao governo, mas, além de enfrentar problemas de saúde que o retiveram no Instituto do Coração em São Paulo, defrontou-se com pesquisas sinalizando favoritismo de Tarcísio Burity, que havia ingressado há pouco tempo na legenda peemedebista. Abriu mão em favor de Burity, que saiu vitorioso por 296 mil votos de maioria no confronto direto com Marcondes Gadelha, apoiado pelo ex-governador Wilson Braga e remanescentes do PDS-PFL. Burity, aliás, registrou em sua carreira política apenas dois mandatos – o de governador (duas vezes) e deputado federal, não tendo conseguido ascender ao Senado. O ex-governador Ivan Bichara Sobreira tentou, em 1978, conquistar uma vaga de senador, mas enfrentou uma dissidência no esquema político oficial, liderada por Mariz, que apoiou Humberto Lucena. Este foi beneficiado, ainda, pelas sublegendas preenchidas com nomes de Campina Grande (Ary Ribeiro) e do Sertão (João Bosco Braga Barreto). Individualmente, Bichara foi mais votado do que Humberto ao Senado mas a soma das sublegendas deu a vitória a Lucena.
Nonato Guedes