Informações que vazaram de conversas políticas em Brasília dão conta de que o PSDB, mesmo tendo decidido ficar no governo do presidente Temer, não descarta a hipótese de abandoná-lo caso prosperem denúncias fortes e devastadoras contra o peemedebista no bojo da denúncia que será formulada pela Procuradoria Geral da República. No último dia 12 os tucanos concordaram manter o apoio a um governo que está minado por denúncias de casos de corrupção e cujo titular, Michel Temer, foi qualificado por Joesley Batista, um dos donos da JBS, como chefe de uma organização criminosa que teria se institucionalizado no poder, abrigando, também, petistas, tucanos e filiados de outros partidos.
O apoio do PSDB, de acordo com fontes credenciadas, seria condicional e foi motivado por razões táticas: parte da bancada tucana está preocupada com as eleições de 2018, mais precisamente com a necessidade de fazer alianças com o PMDB nos Estados em troca de espaços na propaganda eleitoral da TV. Uma outra ala está de olho na blindagem que o PMDB pode oferecer ao senador afastado Aécio Neves, que luta para não ser preso. O PMDB tem maioria no Senado e detém o controle do Conselho de Ética na Casa. Esses dois grupos vão decidir pela absolvição ou pela cassação do mandato de Aécio, ex-presidente nacional do PSDB alvo de oito investigações na Operação Lava-Jato. A questão do compromisso com a governabilidade do país, ainda que com Temer à frente, também pesa muito na definição de manter o apoio à gestão do peemedebista. O que assusta o tucanato, de um modo geral, é o impacto de uma denúncia da PGR contra Temer, capaz de dinamitar o governo em definitivo. Nesse caso, nenhum tucano ficará no Planalto para apagar a luz.
A revista “Veja”, que qualificou a aliança do PSDB com Temer de “casamento de fachada”, listou em sua última edição cinco situações em que os tucanos ficaram em cima do muro. A primeira foi no governo Collor, quando, diante da debandada de partidos nos momentos finais da gestão, o então presidente convidou tucanos para a ocupação de ministérios. De cara, eles não disseram sim nem não. Só tomaram uma decisão quando Mário Covas, que concorreu com Collor em 1889, Fernando Henrique Cardoso e Tasso Jereissati bateram o pé para o partido não aderir. A segunda situação foi em 2005, em meio ao escândalo do mensalão. Os tucanos se negaram a apoiar um pedido de impeachment de Lula. Por muito tempo indecisos, concluíram finalmente que o governo petista “sangraria” sozinho e que o PSDB voltaria naturalmente ao poder em 2006. Lula se reelegeu.
A terceira situação foi o “caso Fracenildo”. Quando o ex-ministro Antonio Palocci ordenou a quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa, em 2006, lideranças tucanas não chegaram a um acordo sobre defender ou não o caseiro. As exceções foram o deputado Alberto Goldman e o senador Álvaro Dias, que condenaram publicamente a ação. No impeachment de Dilma Rousseff, apenas no final de 2015 o PSDB passou a apoiar as manifestações populares contra o governo, mas seus líderes não iam aos protestos. Em março de 2016, às vésperas da votação do impeachment na Câmara, Aécio Neves convocou a militância tucana para ir à rua e, desta vez, compareceu. Por fim, a “Veja” informa que já é histórica a indecisão do PSDB sempre que se aproximam as eleições presidenciais. Nas quatro candidaturas que se seguiram ao segundo mandato de FHC, suas lideranças ficaram divididas até o último minuto sobre quem apoiar – Aécio Neves, José Serra ou Geraldo Alckmin. Na atual conjuntura, o PSDB está diante de uma nova encruzilhada – e, mais uma vez, titubeou na tomada de posição. Por enquanto, devido a conveniências próprias, os tucanos decidiram manter o apoio ao governo de Temer. Mas estão atentos, esperando o momento do “desembarque”, dependendo do agravamento da situação em meio a denúncias que ainda estariam para vir a público com estrondosa repercussão.
Nonato Guedes