O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PSD), “explodiu”, ontem, ao comentar a insistência de vereadores oposicionistas em formular denúncia ao Ministério Público Federal sobre irregularidades nas obras do Parque Solon de Lucena. “A oposição tenta pautar um debate em que a própria prefeitura é a parte mais interessada e está facilitando o diálogo com os órgãos fiscalizadores. Temos, sim, a marca da transparência”, reagiu ele, que fez visita ao Centro de Referência Municipal de Inclusão para Pessoas com Deficiência. Para Cartaxo, as denúncias da oposição não têm nenhum fundamento.
O líder da oposição, Bruno Farias (PPS), informou que a documentação apurada será entregue por ele ao Ministério Público Federal, à Polícia Federal e à Caixa Econômica. Os documentos comprovariam a participação de parentes do secretário de Infraestrutura do município, Cássio Andrade, nos processos burocráticos para autorização de disponibilidade de recursos. Segundo os parlamentares, a esposa e o concunhado do gestor, de nome não revelado, estiveram envolvidos ativamente na execução das obras. Bruno Farias informou que a engenheira Luciana Torres Maroja Santos, esposa do secretário, participou diretamente da autorização de pagamento da obra da Lagoa.
“Até o mês de novembro de 2015, ela participou de fases internas na Caixa Econômica para a liberação de recursos. A partir de novembro de 2015, quando a fiscalização da Controladoria Geral da União já estava se encerrando, foi que ela deixou de atuar como signatária dos e-mails que pedem a autorização e o desbloqueio de recursos para pagamento”, relatou Bruno Farias. A engenheira aparece em pelo menos três e-mails como signatária eletrônica. Cássio Andrade tinha negado anteriormente a participação de familiares na execução das obras. Mas, de conformidade com o documento apresentado pela oposição, além do envolvimento da esposa do secretário também ficou comprovado que o concunhado do gestor esteve nas visitas técnicas que o prefeito Luciano Cartaxo realizava durante as obras na Lagoa.
Entre setembro e outubro de 2014 teria havido a liberação de valores em torno de R$ 2,660 milhões. Desse montante, R$ 600 mil foram liberados para a empresa Compec de maneira ordinária, com o pagamento sendo feito pela conta do convênio e R$ 2 milhões dizem respeito a um pagamento efetuado de forma anômala, da conta da Prefeitura direto para a conta da Compec, sem passar pelo convênio, pois foi paga com recursos ordinários da Prefeitura a título de antecipação de pagamento. “Tudo isto é grave e exige rigorosa investigação por parte da Polícia Federal”, opina Bruno Farias, que foi endossado pelos vereadores Eduardo Carneiro, do PRTB, Humberto Pontes (Avante) e Léo Bezerra, do PSB. Luciano Cartaxo insinua que a oposição deseja promover um debate eleitoral antecipado. “Mas não vou discutir eleições de 2018 com antecedência”, reiterou ele.
E arrematou Luciano Cartaxo: “A oposição já errou uma vez e vai errar duas vezes. Errou a primeira vez quando apostou que a gente não entregaria o Parque da Lagoa, mas o resultado está aí. Uma obra entregue à população, que tem usufruído desse espaço de lazer”. Os vereadores sustentam ter recebido na terça-feira denúncia relativa a pagamentos efetuados às vésperas das eleições de 2014, quando o irmão gêmeo do prefeito, Lucélio, foi candidato a senador e alcançou uma votação surpreendente para quem nunca tinha militado na disputa de mandatos, embora não logrando êxito na conquista da cadeira em jogo. Aliados de Luciano temem que esteja em curso uma orquestração para desgastá-lo na hipótese de resolver concorrer ao governo do Estado em 2018.
Nonato Guedes