Foi o ex-governador Ronaldo Cunha Lima, já falecido, o mentor do fortalecimento do PSDB na Paraíba, ao atrair grupo expressivo de lideranças para o ninho tucano depois de romper com o PMDB devido à candidatura de José Maranhão à reeleição ao governo em 1998. Ronaldo apostava fichas na candidatura do filho, Cássio, a governador, já naquele ano. Maranhão assumira a plenitude do Executivo com a morte de Antônio Mariz, de quem foi vice, na eleição de 1994. A reeleição foi aprovada em meio a denúncias de compra de votos patrocinada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os Cunha Lima ainda permaneceram no PMDB na campanha de 98 porque estavam prisioneiros de prazos legais de desfiliação, mas fechadas as urnas deflagraram a debandada e “anabolizaram” o PSDB em regiões estratégicas. No próximo domingo, o PSDB completa 29 anos de fundação e Cássio é quadro atuante da legenda no Senado, onde se bateu pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Nos primórdios da fundação do PSDB no Estado destacaram-se nomes como o sociólogo Odilon Ribeiro Coutinho, que era radicado em Natal mas possuía vínculos com a Paraíba e Manoel Júnior, que era prefeito de Pedras de Fogo e depois tornou-se deputado estadual e deputado federal, estando hoje filiado ao PMDB e operando como vice-prefeito de João Pessoa. O ingresso dos Cunha Lima, contudo, foi decisivo para turbinar a legenda, que passou a agregar nomes como o do ex-deputado federal Armando Abílio, posteriormente filiado ao PTB. Ronaldo sentiu-se injustiçado dentro do PMDB e desabafava ter sido o número 001 entre os filiados da agremiação sucedânea do MDB. Ele não aceitava a candidatura de Maranhão e chegou a se candidatar a presidente do diretório regional peemedebista, perdendo para Haroldo Lucena, que, na verdade, era apoiado por Maranhão e sua máquina.
Os incidentes vinham se sucedendo entre Cunha Lima e Maranhão e o ex-senador Humberto Lucena chegou a ser acionado para contornar algumas divergências, mas em virtude de problemas de saúde acabou sendo poupado de informações sobre a crise que se alastrava no partido. A gota d’agua para o rompimento do clã Cunha Lima foi a comemoração de um evento de aniversário de Ronaldo no Campestre Clube, em Campina Grande. Maranhão, governador, levou como presente uma ordem de serviço para realização de obras de impacto em Campina Grande. Ronaldo desdenhou do “presente” e, de dedo em riste, insinuou a Maranhão que ele não tinha capacidade para governar o Estado, sugerindo que lhe passasse o bastão. Manifestações de vaias ecoaram no recinto do Campestre, com os ânimos exaltados e Maranhão deixou o local na companhia de familiares e aliados, surpreso com tudo o que havia acontecido. A partir daí, o divisor de águas foi cristalizado.
Cássio acabou saindo candidato ao governo em 2002, quando bateu Roberto Paulino em segundo turno. Em 2006, foi reeleito, tendo como vice José Lacerda Neto e em 2010 elegeu-se senador com votação estupenda no quadro político paraibano. O ex-senador Cícero Lucena, com o apoio do clã campinense, concorreu duas vezes a prefeito de João Pessoa pelo PMDB, saindo vitorioso, e migrou para o ninho tucano na sequência. Exerceu, ainda, a secretaria de Políticas Regionais, com status de ministro, no governo Fernando Henrique. Na prática, a Pasta era subordinada a José Serra, que comandava o Planejamento com mão de ferro. Cássio voltou a disputar o governo em 2014, perdendo para o atual governador Ricardo Coutinho (PSB). Os dois eram aliados até então. Na conjuntura atual, além de Cássio senador, seu filho Pedro Cunha Lima exerce um mandato de deputado federal. No PSDB, Cássio tinha interlocução privilegiada com Aécio Neves (MG), que atualmente está sem mandato e ameaçado de prisão. Na avaliação do histórico do PSDB na Paraíba, Cássio e outros expoentes destacam conquistas importantes em favor da Paraíba.
Nonato Guedes