A insistência do governador Ricardo Coutinho (PSB) em não revelar nomes que tem na mesa como alternativas para disputar a sua sucessão em 2018, preferindo argumentar que o seu projeto administrativo em execução dará a vitória ao esquema governista começa a causar desconforto entre aliados do chefe do Executivo que, embora não o confessem, são levados a camuflar uma realidade: a ausência de candidatura forte nas hostes situacionistas para enfrentar as oposições. A mais nova vítima da “síndrome de abstinência de candidatura governista” foi o Chefe de Gabinete do governador Nonato Bandeira, que em entrevista, ontem, no programa “Sem Censura”, ancorado pelos jornalistas Antônio Malvino e Lenilson Guedes, defendeu repetidamente o projeto administrativo socialista e entoou a cantilena de que ele conduzirá os “ricardistas” à permanência no poder.
Em tom de galhofa, o candidato a ser ungido pelo governador no “momento certo”, como ele apregoa, já está sendo chamado pelos adversários, “em off”, de “Sr. Projeto”. Entre aliados do governador, que preferem o anonimato, afirma-se que Ricardo comete um grave erro de estratégia ao não se fixar em um nome ou ao não lançar alguns nomes a título de balão de ensaio para testar a receptividade que eles possam ter. Um deputado estadual do bloco governista desabafa que Ricardo dá a entender que se considera o “Lula da Paraíba”, capaz de transferir votos para eleger até “um poste”, como foi dito na primeira campanha vitoriosa de Dilma Rousseff em 2010. Ela era uma ilustre desconhecida no universo político nacional e foi catapultada graças a uma meticulosa campanha de massificação idealizada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo governo estava em lua de mel com a opinião pública brasileira.
Por analogia, mesmo os interlocutores mais próximos do governador paraibano recordam que ele não logrou transferir votos em duas eleições à prefeitura de João Pessoa para as candidatas Estelizabel Bezerra (2012) e Aparecida Ramos (2016), embora, no papel de candidato, Ricardo tenha sido eleito com vantagem expressiva nas disputas de 2004 e 2008. A atual conjuntura é tida como mais complexa por envolver a disputa do governo do Estado, com repercussão em 223 municípios paraibanos. O governador não demonstra a mínima simpatia pela candidatura da sua vice, Lígia Feliciano, do PDT, e pode vir a apostar em nomes técnicos, não necessariamente políticos, como admitiu, ontem, o Chefe de Gabinete Nonato Bandeira. Nesse contexto técnico, conforme analistas políticos, o nome com mais cacife junto a Ricardo ainda seria o do secretário de Infraestrutura e Recursos Hídricos João Azevedo, cuja competência administrativa é reconhecida mas que não tem histórico de militância política bem-sucedida.
A hipótese de que Ricardo venha a lançar mão de candidatos de outros partidos não é considerada no seu círculo mais íntimo. “A demora em preparar candidaturas revela traços de personalismo, que nem sempre funciona em política”, define um cientista universitário que prefere falar “em off”. O professor lembra que Ricardo sempre cultuou o personalismo, embora não o assumindo. O exemplo mais visível foi o incentivo à denominação “Coletivo Ricardo Coutinho”, massificada nos primórdios da trajetória política do atual governador. O próprio Ricardo decretou a “extinção” do “Coletivo” numa entrevista ao “Jornal da Paraíba”, quando esse veículo operava com edições impressas. Outros assessores de Coutinho advertem que, como não há espaço vazio, a recusa em declinar nomes como opção para a disputa ao governo estimula o surgimento de “candidatos aventureiros”, referência a políticos que têm expressão municipalizada mas que se acham capazes, em pouco tempo, de empolgar eleitores de todo o Estado. Um exemplo de políticos dessa categoria é o deputado Rubens Germano, conhecido como “Buba”, cujo raio de ação é concentrado em Picuí, na região do Curimataú. Ele tem se oferecido para o “sacrifício” de concorrer ao governo. A deputada Estelizabel Bezerra e o deputado Ricardo Barbosa, também do PSB, aparentemente insinuam-se para a vaga, embora estejam em “stand by” por respeitarem a ingerência avassaladora do governador no processo.
Enquanto a “candidatura” do “Sr. Projeto” não sensibiliza ricardistas de carteirinha a levantar bandeiras nas ruas em 2018 e a ausência de um rosto para defender as cores do esquema do governador angustia seus liderados, a oposição esfrega as mãos de contentamento. No dizer de um deputado do agrupamento oposicionista, “a vitória ao governo é pule de dez para o esquema adversário do governador”. Ainda conforme esse parlamentar, a mesma suposta vitória oposicionista deverá sepultar vestígios de sobrevivência do “ricardismo” na cena política estadual. Ricardo – nessa hipótese – seria lembrado como um bom gestor, mas dificilmente como um gênio político, conclui o informante.
Nonato Guedes