No segundo turno da campanha para governador da Paraíba em 1990, os candidatos Wilson Braga e Ronaldo Cunha Lima, além de caçar votos dos eleitores, travaram uma competição para provar quem era mais opositor do então governador Tarcísio Burity. Enfrentando seu fastígio político no segundo mandato conquistado nas urnas (o primeiro foi por escolha via indireta) Burity, já rompido com o PMDB e filiado ao PRN, legenda de aluguel usada por Fernando Collor para se eleger presidente da República, lançou a candidatura do ex-deputado João Agripino Neto, que surpreendeu com uma excelente performance a ponto de ser o fiel da balança na rodada decisiva, apoiando Ronaldo, que concorria pelo PMDB.
Burity, numa entrevista, foi enfático: “Nem Braga nem Ronaldo”. Ele revelou que iria às urnas votar em branco no segundo turno. A atmosfera política era desconfortável para Burity: no plano administrativo, estava desgastado e não tinha vice-governador, já que Raymundo Asfora foi encontrado morto na granja Uirapuru em Campina Grande antes mesmo de tomar posse junto com Burity. O governador brigou com o PMDB e com a Assembleia Legislativa, negando-se a jurar a Constituição elaborada sob a presidência de João Fernandes da Silva. Por fim, Burity ficou contrariado com a exploração, por Ronaldo, da imagem de uma “gangorra” que ele estaria protagonizando com Wilson Braga para o revezamento nos quadros do poder estadual.
Burity tomou como afronta, ainda, uma declaração de Ronaldo Cunha Lima rejeitando-o no palanque no segundo turno. Nem na própria família, contudo, Burity logrou obter adesão ao seu posicionamento. O deputado estadual eleito Roberto Burity e o vereador Ricardo (ambos sobrinhos do governador) anunciaram apoio a Ronaldo, assim como Antônio Burity, irmão de Tarcísio e prefeito do município de Ingá. Eles alegavam pressão para não se omitir no segundo turno. O governador retrucava usando outros argumentos, como o de que não usaria a máquina administrativa para favorecer quem quer que fosse. “Não usei no primeiro turno para ajudar meu candidato, João Agripino, e não irei usá-la no segundo. Tenho restrições tanto a Ronaldo como a Wilson”, alfinetou. Mais tarde, Ronaldo já governador, o clima beligerante entre ele e Burity agravou-se com o incidente no restaurante Gulliver, em João Pessoa, em que Cunha Lima atirou em Burity. Já iam longe os tempos em que os dois se tratavam como aliados políticos.
Envolvido por um cipoal de contradições na campanha, Burity chegou a dizer à extinta revista A CARTA, de Josélio Gondim: “Wilson está tendo melhor visão política, enquanto Ronaldo diz inverdades sobre a crise do Estado. Ronaldo é quem está me atacando mais na campanha, mais até do que Wilson, que tem me criticado pouco”, desabafou o então governador. Ele fez projeções variadas de cenários, chegando a prever um segundo turno entre João Agripino Neto e Wilson Braga, o que foi entendido como “provocação” a Ronaldo. Com a própria divisão na família, Burity tornou-se ainda mais afastado do processo. E fazia prognósticos desalentadores para o sucessor, fosse qual fosse. Estimava, por exemplo, que o novo governador teria que demitir entre 50 a 60 mil servidores públicos; do contrário, não iria poder governar. Tendo apoiado Collor em 89, e rompido com ele no fechamento do Paraiban, Burity chamava a equipe econômica do governo federal de imatura e despreparada. Wilson Braga concorreu pelo PDT depois de um passeio por várias legendas mas Ronaldo já entrou no segundo turno com pose de favorito. E, de fato, levou o troféu.
Nonato Guedes