Líder do governo na Câmara Federal, o deputado paraibano Aguinaldo Ribeiro (PP) afirmou que confia na lealdade da bancada governista para engavetar as denúncias feitas pela Procuradoria Geral da República contra o presidente Michel Temer (PMDB), acusado de corrupção passiva. Em Brasília, a expectativa é de que esta semana seja decisiva para a sorte de Temer, cujo futuro está nas mãos de 513 deputados, muitos deles envolvidos em citações, investigados na Lava-Jato e em outras operações policiais. A revista VEJA informa que o próprio deputado Aguinaldo Ribeiro é investigado na Lava-Jato por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Quando chegar ao plenário da Câmara, a denúncia contra Temer só será aprovada se contar com o aval de 342 deputados, no mínimo. Se o presidente tiver o voto de 172, estará salvo, em condições de concluir o mandato, originalmente conquistado por Dilma Rousseff (PT), que foi apeada em meio a um rumoroso processo de impeachment. Pelos cálculos do governo Temer, no momento ele conta com número de votos muito superior ao necessário. Metade da Câmara continuaria fiel ao presidente, que nos últimos dias tem intensificado acenos de benesses e favores a deputados, especialmente os que compõem o chamado “baixo clero”. O deputado federal paraibano Luiz Couto, do PT, diz não ter dúvidas de que o Planalto lançará mão do rolo compressor para aliciar parlamentares. A liberação de recursos provenientes de emendas ao Orçamento da União tem sido retida até hoje para ser utilizada como moeda de troca no julgamento do presidente.
Analistas políticos de São Paulo e Brasília avaliam, ainda, que o corporativismo é outro fator que pode pesar a favor de Temer. O professor Carlos Melo, do Insper, teoriza: “Os deputados raciocinam que, se pegarem o presidente, qualquer um poderá ser pego. É um sistema de interesse e de proteção mútua”. Conta na balança, igualmente, a experiência de Temer na arte de lidar com os deputados. Ele costuma ligar diretamente para eles e responde a mensagens pelo WhatsApp. No relato de “Veja”, muitos políticos “se derretem” com esses agrados. Na mais recente pesquisa do Datafolha, 76% dos brasileiros querem a renúncia de Temer, com base nas denúncias contundentes do procurador-geral Rodrigo Janot. Mas a decisão caberá a um seleto grupo de políticos e um instrumento forte do Planalto é a prática do fisiologismo. As denúncias contra o presidente ganharam ímpeto com a delação premiada do executivo Joesley Batista, da JBS, que chegou a gravar uma conversa comprometedora com Temer em Palácio. Aliás, 81% dos brasileiros querem ver Josley na cadeia, conforme pesquisas acreditadas. Mas é o destino de Temer que está em pauta – e aparentemente os fados conspiram a seu favor.
O deputado federal Aguinaldo Ribeiro é tido como exemplo de “político camaleônico” – aquela figura que “está de bem” em qualquer situação e com qualquer governo. O paraibano foi ministro das Cidades do primeiro governo de Dilma Rousseff, mas votou pelo impeachment da ex-mandatária, que o tratava de forma até maternal, tendo visitado a residência de familiares dele nas redondezas de Campina Grande, Paraíba. Demonstrando fôlego de sete gatos, Aguinaldo tornou-se líder do governo de Michel Temer na atual legislatura. Ou seja, pôs-se no epicentro de dois momentos decisivos para o futuro do País. Nos meios jurídicos, o que se comenta com frequência é a fragilidade da defesa de Temer, o que só fez robustecer a denúncia de Rodrigo Janot, que tem à sua disposição dossiê de 63 páginas elaborado pela PGR, com transcrições de interceptações telefônicas, filmagens, fotografias e informações apresentadas pelos delatores da JBS.
Nonato Guedes