Um dos episódios mais atípicos da cena política paraibana ocorreu em 1986. O empresário José Carlos da Silva Júnior, proprietário das Organizações São Braz e diretor-presidente da TV Cabo Branco, abriu mão de assumir a titularidade do governo do Estado com a renúncia de Wilson Braga, disposto a ser o candidato do esquema oficial ao Palácio da Redenção. Em poucos dias, antes de ser deflagrada oficialmente a campanha, José Carlos largou a candidatura a governador ao pressentir ensaios de traição e de “cristianização” no curso da disputa. Deixou uma carta comunicando a desistência, viajou para o exterior e deixou uma batata quente para os líderes do PDS e PFL: quem seria o candidato do esquema a governador? Uma reunião às pressas convocada por Wilson Braga optou pela candidatura do então senador Marcondes Gadelha, que, no final das contas, perdeu para Tarcísio Burity por 296 mil votos de diferença.
José Carlos iniciou-se na política pelo assédio de lideranças tradicionais como o ex-governador Wilson Braga, que o convidou para ser seu vice na eleição de 1982. A chapa ganhou por diferença de 151 mil votos sobre o principal concorrente, Antônio Mariz, que havia deixado a Arena e migrara para o MDB-PMDB, concorrendo por suas hostes. Apesar do estilo discreto, nas vezes em que assumiu o governo, José Carlos destacou-se pela ousadia, seriedade e sensibilidade. O jornalista Abelardo Jurema Filho calculou que José Carlos investiu-se no exercício do governo durante 299 dias, somando-se as diversas interinidades que exerceu. Administrou o Estado em momentos de dificuldade, como quando da morte do empresário Paulo Brandão, sócio-proprietário do “Correio da Paraíba”. Houve insinuações de que os tiros de metralhadora disparados contra Brandão partiram de arma da Casa Militar do governo do Estado, chefiada pelo coronel Alencar, homem de confiança de Wilson Braga. José Carlos mandou investigar os fatos, pediu a colaboração de órgãos federais da Polícia e da Justiça e manteve a estabilidade do Estado em fase de gravíssimo impasse. Também geriu a contento outros conflitos surgidos na área governamental, sendo respeitado pelo posicionamento íntegro e pelo trânsito nas mais diferentes correntes.
Em 86, Braga e José Carlos renunciaram no mesmo dia – o primeiro para disputar o Senado, o segundo para se candidatar ao governo. Ficou como “governador-tampão” o ex-senador Milton Cabral, eleito por via indireta pela Assembleia Legislativa e que fez uma gestão tumultuada. No dia 26 de julho, quando o PMDB indicava Tarcísio Burity como candidato, José Carlos renunciou, sozinho, sem consultar familiares, à postulação ao governo. Marcondes Gadelha, chamado para substituí-lo no papel de candidato, foi convencido com um argumento prosaico por Wilson Braga: “Só você pode perder”. Wilson alegava que Marcondes, mesmo derrotado, ainda teria mais quatro anos de mandato como senador e, portanto, poderia correr riscos na disputa. José Carlos admitiu ter ficado frustrado por não levar adiante a postulação ao governo, mas se gratificava em um aspecto: “dei minha parcela de contribuição à Paraíba, dirigindo o Estado com a seriedade que dedico aos meus negócios”. Em 94, ele aceitou convite de Ronaldo Cunha Lima para ser seu suplente de senador. Por várias vezes, Ronaldo facilitou a investidura de José Carlos ao mandato titular. O empresário aproveitou essas ocasiões para usar a tribuna e defender pleitos de interesse da Paraíba. Mas encerrou aí a sua passagem pela atividade política.
O primeiro sinal de que poderia ser vítima de “traição” na campanha para governador se deu em Cajazeiras, onde Braga realizou seu primeiro comício ao Senado. Após discursar, Wilson foi retirado do palanque por correligionários e carregado nos braços, em passeata pelas ruas da cidade. José Carlos ficou quase sozinho no palanque e acabou não discursando. De volta à Capital, decidiu abrir mão da candidatura. Nas urnas, Braga perdeu a disputa ao Senado. O PMDB elegeu Humberto Lucena e Raimundo Lira, enquanto Burity infligia derrota a Marcondes para governador.
Nonato Guedes