A paraibana Luíza Rabello, filha do colunista social Gerardo Rabello, do jornal “Correio da Paraíba”, foi pioneira ao popularizar o “meme”, um artifício humorístico incorporado às redes sociais e que envolve celebridades instantâneas ou personalidades carimbadas do jet-set nacional e internacional. O resgate desse pioneirismo foi feito por Kleyson Barbosa no livro “Os 198 Maiores Memes Brasileiros Que Você Respeita”, coletânea de fenômenos mais criativos e malucos que “bombaram” online e provaram que o melhor do Brasil é o brasileiro, na definição do autor da obra, que circula com o selo da Editora Abril como parte da coletânea “Mundo Estranho”.
Kleyson Barbosa historia que em 2012, o colunista Gerardo Rabello estrelou na TV o anúncio de um empreendimento imobiliário na região de João Pessoa. Ele aparecia ao lado da família em uma sala para falar sobre as qualidades do projeto. Gerardo dizia que todos ali estariam presentes na inauguração do negócio – “menos Luíza…que estava no Canadá”. A explicação aleatória com uma informação tão particular não fazia sentido dentro de um comercial formal e, por isso mesmo se espalhou online. O “criador” do meme foi o publicitário paraibano Alberto Arcela, que num primeiro momento ficou impressionado com a repercussão do “meme” e com a sua estrondosa “viralização” na web.
Segundo Kleyson, os produtores do comercial alegaram que a frase fora incluída porque a família do colunista é muito conhecida e a ausência de Luíza seria sentida. “Mas quando a piada é tão boa, quem se importa com a lógica, não é mesmo? O que ficou foram as várias montagens que relacionavam fatos recentes que já eram do conhecimento de todos, exceto da intercambista. Outras customizações da propaganda a transformaram num forró, num falso Plantão Urgente da Globo, em camisetas com a frase “All but Luíza, que está no Canadá” e em um remix da cena do “Hitler furioso” no filme “A Queda”. Tudo isso foi reunido num Tumblr. Os internautas pouco imaginavam, mas estavam fazendo história”, enfatiza Kleyson, salientando que por causa de tamanha repercussão o meme foi parar nos principais noticiários do país. No sábado daquela semana, o cantor Lenine ainda o utilizou em seu show: “Que maravilha, está todo mundo aqui, rapaz! Só não está a Luíza, que está lá no Canadá”. Era oficial: “Luíza no Canadá” havia se tornado o primeiro meme brasileiro a sair do virtual e pautar conversas no mundo real em larga escala”.
Que o diga o jornalista Carlos Nascimento, pontua Kleyson. O meme já estava perdendo a força quando ele fez um breve editorial no ar, reclamando da atenção indevida que a piada estava recebendo (na opinião dele, em detrimento de outros assuntos importantes para o país”. Concluiu esbravejando: “Luíza já voltou para o Canadá e nós já fomos mais inteligentes”. É óbvio que os internautas não perdoaram ser chamados de burros e prepararam uma enxurrada de “memes spin-off” ironizando Nascimento. Kleyson informa que o meme “Luíza, que está no Canadá” virou tema de estudos acadêmicos e houve pesquisadores que defenderam que a memética se transformasse numa ciência. O termo “meme” foi empregado pelo renomado etólogo Richard Dawkins em seu best-seller “O Gene Egoísta”. Escrito em 1976, o livro explicou a teoria da evolução de forma clara o bastante para convencer a bancada evangélica do Congresso norte-americano de que o darwinismo estava certo. Mas, lá no meio, introduzia também o conceito dos memes, os análogos culturais dos genes. Para Dawkins, os memes seriam uma outra unidade de replicação, diferente dos genes, responsável pela seleção e transmissão de conteúdos escritos em nossa cultura. Dessa forma, Dawkins propunha um evolucionismo cultural. Um bordão que se populariza, um estilo de corte de cabelo que vira moda, uma imagem replicada nos perfis das redes sociais, por exemplo, são memes.
O jornalista Guilherme Fiúza, que tem colunas publicadas no jornal “O Globo”, na revista “Época” e livros de repercussão, chegou a escrever um comentário intitulado “Luíza para presidente”. Começava afirmando que Luíza fora ao Canadá para provar que a opinião pública brasileira virou geleia. “A frase de um comercial imobiliário na Paraíba, que se espalhou pelo Brasil inteiro, é um divisor de águas na cultura de massa. Até então, uma mensagem insignificante podia ganhar dimensão pública por contágio. A grande novidade é que, depois de Luíza, o contágio não precisa mais de mensagem. Nem insignificante. Em questão de horas, um país inteiro passou a repetir estas seis palavras: “Menos Luíza, que está no Canadá”. Qual era a charada? Nenhuma. Que código, que sentido subliminar ou pelo menos que estranheza justificava tão irresistível propagação? Ninguém saberia responder. Mas nem seria preciso resposta porque ninguém perguntava. O que explicava a repetição era a repetição. O espetáculo da inércia mental nunca tinha sido tão exuberante”, teorizou Guilherme Fiuza.
Para Guilherme, o furacão Luíza viera expor, de forma quase cruel, a precariedade dos símbolos que o senso comum consagra. “A menina real, Luíza Rabello, não tem nada com isso – ou melhor, não tinha. Agora, terá, pela importância que o público passou a lhe atribuir a partir de…nada. Circularam rumores de que Luíza estará na próxima edição do Big Brotther. Se ela pensar grande, poderá ir direto para Brasília. E nem precisará de um padrinho popular que repita exaustivamente seu nome aos quatro ventos. A internet já fez isso por ela, sem precisar de palanque, voz rouca, suor e lágrimas providenciais”, avançou Fiuza no comentário. Ainda hoje, como se vê, o episódio do “meme” de Luíza é relembrado, o que significa que entrou para a História, definitivamente. Mas foi um modismo. Luíza continua tocando sua vida, com o apoio dos pais Gerardo e Patrícia Rabello e com maturidade para encarar com “fair-play” o pioneirismo que a consagrou na mídia, fazendo jus aos 15 minutos de fama a que cada um teria direito, no prognóstico de Andy Warhol. Bem ou mal, há uma realidade insopitável: a globalização mundial. O conceito de “aldeia global”, de McLuhan, tornou-se irreversível – para qualquer coisa, para qualquer evento.
Por Nonato Guedes