Deputados e assessores do governador Ricardo Coutinho especulam livremente, em conversas informais com jornalistas ou em entrevistas oficiais, sobre o chamado “candidato oculto” da preferência do chefe do Executivo para sucedê-lo na campanha eleitoral do próximo ano. Pelo menos um deputado – Hervázio Bezerra, do PSB, líder da bancada governista na Assembleia Legislativa, e um auxiliar influente do governador, o Procurador Geral do Estado Gilberto Carneiro apostam que o candidato “in pectoris” de Ricardo será o secretário de Infraestrutura e Recursos Hídricos, João Azevedo, que, inclusive, foi ensaiado para ser candidato a prefeito de João Pessoa em 2016, sendo substituído pela professora universitária Aparecida Ramos, secretária do Trabalho e Desenvolvimento Humano.
Na entrevista que concedeu ontem à noite à TV Master, que ainda repercute intensamente nos meios políticos e jornalísticos, o governador Ricardo Coutinho bateu o martelo ao anunciar que ficará no cargo até o último dia de mandato, ou seja, 31 de dezembro de 2018, mas advertindo que seu esquema lançará um nome que talvez realize muito mais pela Paraíba do que ele próprio tem realizado até agora, na segunda gestão consecutiva que empalma no Estado. A definição do governador corresponderia, na opinião de interlocutores seus, ao perfil de um executivo testado em missões administrativas e sem desgaste político. O governador estaria atento, nas avaliações internas, para o fato de que a classe política está profundamente afetada com os inúmeros escândalos e prisões de figuras influentes, de vários partidos, indistintamente. A tendência do eleitor, no caso, seria por uma opção diferente, que resulte em políticas públicas de resultados.
Ricardo admitiu, na entrevista, que respeita líderes como o senador José Maranhão, do PMDB, independente de ter sido aliado ou ter divergido dele em momentos pontuais da conjuntura política paraibana, mas não chegou a confirmar encontros informais que teria mantido ultimamente com o parlamentar, conforme divulgado na imprensa. Ricardo ponderou que não seria ético de sua parte estar dando publicidade a episódios particularíssimos que eventualmente tenham ocorrido, sem envolver ingerência na condução do interesse público, que, a seu ver, está acima de qualquer prioridade. No círculo de Ricardo, avalia-se que Azevedo foi retirado do páreo para prefeito como estratégia pessoal do governador no sentido de poupá-lo para outros embates. A expectativa entre os adversários é de que a oposição se una em torno de um nome para derrotar o esquema ricardista em 2018, que teoricamente seria o do prefeito reeleito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, do PSD. Mas Ricardo parece trabalhar com a pulverização de candidaturas adversárias no primeiro turno – e já nas últimas horas o senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, deu declarações a órgãos de imprensa da Paraíba defendendo mais de uma postulação na rodada inicial da disputa. No ano passado, Cássio e o PSDB apoiaram a reeleição de Cartaxo a prefeito, mas na disputa ao governo do Estado não há garantia de que a aliança seja mantida, conforme fontes ligadas ao governador.
Coutinho deixou claro na entrevista dois pontos que também estão sendo levados em consideração pelos analistas políticos: já conversou com a vice-governadora Lígia Feliciano, do PDT, comunicando a sua decisão de permanecer no cargo até o último dia do mandato; adotará à sua sucessão um nome que reúna credibilidade e competência para dar continuidade ao seu projeto administrativo iniciado em 2011, quando começou sua passagem pelo governo do Estado. A vice-governadora, ainda que viesse a ser lançada em faixa própria, não seria hostil a Ricardo, já que tem feito reiterados elogios, independente do governador manifestar preferência por uma postulação sua. Na pior hipótese, Ricardo estaria preparado para qualquer rebordosa ou dissidência, uma vez que deixou claro o interesse de se assegurar o controle da máquina administrativa e do processo eleitoral no seu esquema político. Isto significa que ele estará aberto a composições e entendimentos mas não abre mão de opinar sobre o cabeça de chapa, ainda que viesse a ser forçado a se compor com um nome fora das hostes do PSB. No momento, conforme os aliados do governador, ele considera estar sob controle a situação do ponto de vista de encaminhamentos políticos para 2018. E como vai estar focado na administração e na meta de eleger o sucessor, terá tempo e condições para fazer alterações de rota, se elas forem necessárias – argumenta um interlocutor político do governador, tentando “decifrar” o que se passa na sua cabeça e que ele não revelou à opinião pública, por estratégia.
Nonato Guedes