Uma missa às 16h de hoje na Igreja do Carmo, Centro, em João Pessoa, celebra os 14 anos da morte do ex-governador Tarcísio de Miranda Burity, que faleceu na manhã do dia 08 de julho de 2003 em São Paulo, no Instituto do Coração, vítima de infarto do miocárdio, decorrente de insuficiência cardíaca grave. “Tarcísio foi um marido exemplar, um grande pai e um homem público que deixou obras importantes para a Paraíba e muita saudade”, depõe a escritora Glauce Navarro Burity, viúva do ex-governador. Entre 1979 e 1983 Burity governou o Estado depois de ter sido escolhido por via indireta, como um “tertius” no confronto entre Antônio Mariz e Milton Cabral, quando o regime militar ensaiava passos no rumo dos estertores. Em 82, Burity se elegeu deputado federal, obtendo mais de 170 mil votos, e em 86 voltou ao governo consagrado, derrotando Marcondes Gadelha por uma diferença de 296 mil votos e já concorrendo pelo PMDB, com o qual rompeu depois, devido a fortes divergências com integrantes do partido.
Num ensaio que escrevi para o livro “Poder e Política na Paraíba”, editado pela API e A UNIÃO, anotei no perfil do ex-governador: “A respeito do cidadão Tarcísio de Miranda Burity conta-se que nos idos de 1978 estava ele posto em sossego na sua casa, no bairro de Miramar, debruçado sobre livros de Filosofia e entretido com música clássica, tendo como aperitivo um delicioso suco de laranja, quando foi arrebatado das meditações por um telefonema interurbano. Do outro lado da linha, de Brasília, o Presidente da República comunicava a Burity que ele fora premiado com a regalia de ser governador do Estado da Paraíba em mandato a se iniciar em março de 1979. Narrada dessa forma, a iniciação política do personagem Tarcísio Burity estaria a sugerir uma fábula, uma espécie de relato fantasioso destinado a figurar em alguma das obras de ficção que enchem o mercado. Esta é a forma preferida, curiosamente, por amigos e adversários, para descrever a trajetória de Burity – os primeiros recorrem a esse tipo de enredo para glorificá-lo, os outros para debochar dele. No entanto, é fato que foi mais ou menos assim que as coisas começaram – e é certo que este é o ponto de consenso entre amigos e inimigos”.
Quando Burity foi sagrado governador, num tempo em que as escolhas eram indiretas, a grande imprensa nacional tratou o ungido com desdém. A festejada revista “Veja” apresentou-o como um “obscuro professor universitário” e os meios políticos locais torciam o nariz para o seu nome, profetizando para breve um desastre. Só confiavam na nascente carreira política do professor universitário os familiares, amigos mais chegados e alguns conhecidos, um dos quais um ex-seminarista, colega de Burity, que cunhou sobre ele uma espécie de sentença: “Quando Burity deixou o Seminário é porque se convenceu da impossibilidade de a Paraíba dar um Papa”. Impedido de ocupar o trono de São Pedro, Burity transformou a Paraíba, em uma década, numa réplica do Vaticano – os anos 80 começaram com ele no governo do Estado e, ao terminar, o encontraram no mesmo lugar. Poucos homens públicos, na Paraíba, terão tido o privilégio de governar o seu Estado duas vezes consecutivas em apenas uma década”.
Quando estourou um “desaguisado” entre o grupo da Várzea e o governador Burity, com consequências nas votações na Assembleia e na unidade do PDS, o então Ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel, veio à Paraíba para contornar os atritos. A este repórter, durante entrevista coletiva, assim definiu Burity: “Ele é um político não convencional”, o que estava mais para elogio do que para crítica. O problema é que Burity irrompeu sem compromisso com organizações políticas e partidárias tradicionais. Não suportava pressões e teve sua coragem posta à prova em diversas ocasiões – uma delas quando foi à sede da Polícia Militar exonerar o comandante, que supostamente armava uma rebelião de oficiais contra o governo. No ensaio que redigi para o livro sobre lideranças políticas da Paraíba, o título foi emblemático: “Tarcísio Burrity – Um homem que, segundo se diz, tem linha direta com o Céu”. O fato é que ainda hoje ele deixa um imenso vazio na empobrecida conjuntura política paraibana. “Burity era um homem público fascinante”, depõe o jornalista Severino Ramos, biógrafo e ex-secretário de Cultura do governo Burity, autor do livro “Burity – Esplendor & Tragédia”.
Nonato Guedes