A reaproximação do governador Ricardo Coutinho (PSB) com o PT cria uma nova conjuntura política na Paraíba, podendo alterar a correlação de forças nas eleições de 2018 e propiciar realinhamentos até então descartados. O gestor paraibano tem estreitado os laços com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mantém os canais com a ex-presidente Dilma Rousseff, perfilando entre as lideranças que criticam o governo de Michel Temer e retomam o coro por eleições diretas-já. Embora insista em que não disputará mandatos eletivos no próximo ano, preferindo permanecer no governo até o último dia e lutar para eleger sucessor afinado com o projeto que executa, o governador poderá ser persuadido a rever essa posição, diante da entrada em cena de figuras nacionais de projeção.
O próprio ex-presidente Lula confessou ao jornalista Walter Santos, do portal Wscom e da revista “Nordeste”, que está disposto a fazer gestões para convencer o governador Ricardo Coutinho a reavaliar posturas anunciadas e aceitar o desafio de concorrer a uma vaga de senador pela Paraíba. O entendimento de Lula é o de que Ricardo é um quadro político de valor, que pode oferecer contribuição marcante no debate político nacional. “Considero imprescindível uma candidatura do governador ao Senado, até como estratégia para melhorar a representação política no Congresso”, opinou Lula, dizendo que estão definitivamente superadas divergências entre o PT e o gestor socialista, que foram causadas por fatores ligados à disputa política paraibana, em que o PT oscilou em termos de alianças.
Originalmente, Ricardo Coutinho é egresso das hostes petistas em termos de militância política-partidária. Foi vereador e deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores. O distanciamento da legenda deu-se quando Coutinho tentou postular a indicação para ser candidato a prefeito de João Pessoa dentro do PT e enfrentou resistência de facções comprometidas com outras postulações. O partido ignorou até mesmo pesquisas de opinião pública que sinalizavam o crescimento da liderança pessoal de Ricardo. Essa situação de conflito levou Coutinho a se desfiliar do PT, migrando para o PSB, pelo qual se elegeu prefeito da Capital em 2004, sendo reeleito em 2008. O eixo das suas alianças alterou-se, com Ricardo se compondo com o PMDB do senador José Maranhão. Posteriormente, alinhou-se com Cássio Cunha Lima, do PSDB, e Efraim Morais, do DEM, na primeira caminhada para ascender ao governo do Estado. Rompeu com Cássio, preservou a composição com Efraim Morais mas focou-se no fortalecimento do PSB e na recomposição com o PT.
No processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Ricardo alinhou-se ostensivamente entre os que qualificaram de golpe a orquestração ocorrida no âmbito do Congresso que resultou na saída de Dilma, poucos meses após investir-se à freente do segundo mandato. O governante paraibano não fez questão de aprofundar relações com o governo do presidente Michel Temer e fez questão de ciceronear Lula e Dilma na visita informal que fizeram, em Monteiro, no cariri, a obras avançadas do projeto de transposição de águas do rio São Francisco. Lula já anunciou que pretende voltar à Paraíba em agosto e que deseja ser acompanhado pelo governador no roteiro que envolverá outras cidades, agora no Sertão paraibano. Entre interlocutores de Ricardo, fala-se na hipótese dele vir a compor chapa nacional liderada pelo ex-presidente Lula, que está em campanha para voltar ao Palácio do Planalto. Os petistas paraibanos festejam o “retorno” de Ricardo ao que chamam de campo político das forças democráticas e de esquerda.
Nonato Guedes