O governo do presidente Michel Temer (PMDB) continua cada vez mais fragilizado. Ainda ontem, o coro do “Fora Temer” ressoou na Praça do Povo do Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa, durante um “Tributo a Belchior” que teve a participação de uma dezena de artistas paraibanos. Em Brasília, nos bastidores, o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM), que está na linha de sucessão imediata de Temer em caso de afastamento, realiza movimentos de ensaio à formação de um novo governo. Mas a grande bomba esperada nos meios políticos é a delação do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está preso há nove meses e, na primeira sentença, foi condenado a mais de quinze anos de cadeia.
Cunha, de acordo com informações que chegaram à revista “Veja”, pretende incriminar diretamente o presidente Temer na delação que está sendo redigida por advogados, mas não deverá poupar o deputado Rodrigo Maia, do DEM, e já teria feito chegar a ele a notícia de que se preparasse para denúncias a serem formuladas. Ao retornar do exterior, o presidente Temer, que foi à Conferência do G-20, promoveu reuniões demoradas em Brasília com o chamado núcleo duro do Planalto, que é da sua confiança, debatendo uma estratégia para fazer face aos movimentos que possam eclodir com vistas a ameaçar sua permanência no Planalto.
Pelo que vazou de inconfidências de Eduardo Cunha, os seus relatos ao Ministério Público deverão ser devastadores para o presidente Michel Temer e auxiliares de extrema confiança dele como os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco. Cunha está há quinze dias em uma sala reservada do Complexo Médico-Penal de Pinhais, em Curitiba, em que se encontra preso, redigindo os anexos que irão compor sua proposta de delação, dos quais dez seriam dedicados exclusivamente ao presidente Michel Temer. Neles, Eduardo Cunha se dispõe a contar histórias que mostram que Temer não só sabiaa dos esquemas de corrupção montados no coração do governo desde os tempos de Lula e Dilma como tinha poder de mando sobre eles. Além disso, na versão do ex-deputado, o presidente beneficiava-se diretamente de propinas recebidas. O deputado já teria redigido mais ou menos 130 capítulos de histórias que pretende contar. O resumo da ópera é a revelação de que Temer supostamente seria o chefe da organização criminosa formada pelo “PMDB da Câmara”, tendo atuado pessoalmente nas negociações para o repasse de propinas em diversas áreas do governo.
No petardo contra Rodrigo Maia, Cunha o acusará de receber propinas em troca de apoio a Medidas Provisórias oriundas do Palácio do Planalto. Para piorar a situação – lembra a revista Veja – vem também aí a delação do doleiro Lúcio Funaro, responsável pela execução de grande parte dos negócios orquestrados pelo ex-deputado Eduardo Cunha. Fonte da Procuradoria Geral da República revela que ele confessa, num dos depoimentos, que recebeu da JBS para ficar calado cerca de cinco milhões de reais. Os pagamentos teriam sido feitos por ordem do presidente da República. Eduardo Cunha também teria recebido 5 milhões de reais da JBS, recebendo o dinheiro, em mais de uma remessa, das mãos do próprio empresário Joesley Batista, no Aeroporto de Jacarepaguá, no Rio, para onde ia acompanhado de seguranças da Câmara. Todos esses fatos colocam os meios políticos em polvorosa, a partir de Brasília.
Nonato Guedes, com agências noticiosas