Tendo como cardápio “pizza”, a reunião dos líderes tucanos, ontem à noite, em São Paulo, foi recheada de críticas ao governo do presidente Michel Temer mas a decisão sobre rompimento ou não com o peemedebista foi adiada por mais alguns dias. Inconfidências de alguns dos participantes dão conta, porém, de que ganha força a tese do “desembarque” do governo de Temer. O encontro foi restrito a parlamentares e notáveis do PSDB, o que gerou protestos de prefeitos como Artur Virgílio, de Manaus. “Fiquei sem entender os critérios de convocação”, observou ele, alfinetando que desembarcar do governo “não soaria como um ato de coragem”,
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tinha reunião agendada para domingo com o presidente Michel Temer, preferiu desmarcar o encontro depois das declarações de líderes como o presidente nacional interino do PSDB, Tasso Jereissati, a favor do desembarque do partido do governo. Não há nova data para conversa de FHC com Temer e o ex-presidente viaja hoje ao exterior. Internamente ainda causa impacto a declaração do senador paraibano Cássio Cunha Lima, primeiro vice-presidente do Senado Federal, de que dentro de 15 dias o governo de Michel Temer deixaria de existir.
Embora Cássio tenha procurado atenuar os termos da declaração, ele próprio acabou reiterando que é insustentável a posição do presidente Temer diante da velocidade que os acontecimentos estão tomando. Ontem, o deputado Sergio Zveiter, do mesmo partido de Michel Temer (é do PMDB, seção Rio) apresentou parecer favorável ao prosseguimento da denúncia da Procuradoria-Geral da República que acusa o mandatário de cometer, no exercício do cargo, o crime de corrupção passiva. Em 59 minutos de leitura do parecer, Zveiter confirmou que a denúncia é grave e que há indícios suficientemente sérios para ensejar o recebimento das acusações. Ele escreveu no documento de 31 páginas: “Vale salientar que qualquer denúncia parte dos fatos disponíveis sobre a suposta prática de ato delituoso, cuja verdade real será revelada após o fim da instrução criminal, garantido o amplo direito de defesa e o contraditório, com a produção de todas as provas em direito admitidas”. Contrariando as alegações entregues por escrito pela defesa de Temer na semana passada, Zveiter disse entender que a denúncia não é inepta nem fantasiosa.
Em diversos momentos o relator lembrou que a Câmara faz um juízo predominantemente político e que cabe ao Supremo Tribunal Federal uma avaliação mais técnica. “Aqui não condenamos ou absolvemos os denunciados; apenas admitimos ou não a acusação”. Aliados do presidente já preparam votos em separado para serem apreciados na sessão de amanhã da Comissão de Constituição e Justiça. O advogado do presidente Temer, Antonio Claudio Mariz, afirmou aos deputados que é mentira que o presidente da República tenha recebido um vintém da JBS. Para Mariz, o voto do relator foi uma reprodução de denúncia e não há nem materialidade no que tange ao recebimento por Temer dos R$ 500 mil entregues pela JBS ao seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures em uma mala.
Nonato Guedes, com agências