Uma reportagem publicada pela revista “Istoé” informa que o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, voltou a operar nas sombras, influenciando decisões do Partido dos Trabalhadores. Enquanto não retorna ao cárcere, ele age recebendo companheiros em casa, influenciando nas resoluções petistas, insuflando a militância e até mantendo conversas “de coxia” com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Numa das reuniões de que participou, Dirceu orientou os petistas a escolherem a senadora Gleisi Hoffmann, do Paraná, para presidir o partido. Ele deixou a prisão em maio deste ano e tem evitado os holofotes: não aparece em público nem mesmo para receber loas de companheiros de outrora, como ocorreu na última convenção nacional do PT em que Gleisi Hoffmann foi alçada ao posto máximo da legenda, sucedendo a Rui Falcão.
Dirceu pode retornar à cadeia a qualquer momento, bastando que a segunda instância da Justiça ratifique decisão do juiz Sérgio Moro. O entra e sai de militantes e políticos em sua residência em Brasília, conforme a reportagem assinada por Ary Filgueira, é frenético. Recentemente, por meio de uma mensagem gravada, Dirceu enviou um recado à militância: “Precisamos ocupar as ruas desse País”. A conversa entre Lula e Dirceu foi longa. O ex-capitão do time e o ex-presidente ainda tocam de ouvido. Há duas semanas, Dirceu foi flagrado em festa junina sentado próximo ao caixa dois. Monitorado com a ajuda de uma tornozeleira eletrônica, ele se reúne uma vez por semana com a cúpula petista, que ajudou a eleger. O senador paulo Rocha (PA) admite que Dirceu contribui para as decisões do partido. “Mas de forma discreta”, adianta.
Um assessor da liderança do partido no Senado – conforme a “Istoé”, disse que José Dirceu ainda possui uma carteira de conhecimento que transcende as alas do PT. Até pelo Ministério Público Federal ainda transita com desenvoltura, mas seus movimentos são meticulosamente calculados para não desagradar a Lula nem abespinhar o Ministério Público Federal em caso de ação ou declaração desastrada. Na avaliação de Dirceu, para que a esquerda tenha condições de regressar em 2018 ao poder, o presidente Michel Temer precisa sangrar até o final, mesmo que isso atrase ainda mais a recuperação econômica do Brasil. Relacionado como um “corrupto contumaz”, que no total alcançou uma pena de 32 anos e um mês a cumprir na Lava Jato, ele foi solto graças a uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que entendeu que Dirceu não apresenta risco de voltar ao crime.
Mesmo preso, pelo relato da “Istoé”, Dirceu nunca parou de tentar influir no PT. Na prisão, o petista dedicava-se à produção de um livro, do qual um capítulo será dedicado ao período de um ano e nove meses que ficou encarcerado em Curitiba. Apesar do clima de aparente fidelidade, nem tudo são flores na relação de Dirceu com o PT. Em conversa com interlocutores, o ex-todo-poderoso ministro da Casa Civil desfiou um rosário de críticas a algumas figuras do petismo, a quem acusou de traição. A amigos de longa data desabafou que seu infortúnio foi efusivamente comemorado por uma corrente interna do PT, interessada em vê-lo pelas costas. Os últimos passos do PT foram traçados com a anuência dele. Foi numa reunião realizada em torno de uma mesa quadrada de madeira que Dirceu deu aval, por exemplo, à ascensão de Gleisi Hoffmann à presidência do partido, em detrimento do senador paraibano Lindbergh Farias (representante do Estado do Rio) e descrito por Dirceu como “muito instável”. Para o ex-ministro, Gleisi “é mais orgânica e focada”. Os encontros, em geral, ocorrem às escondidas, na calada da noite, longe das lentes e radares da mídia e até da vizinhança no Lago Sul, setor residencial nobre de Brasília.
Nonato Guedes, com “Istoé”