Analistas políticos conceituados na Paraíba advertem que o “balaio” de votos que o esquema do governador Ricardo Coutinho cogita transferir para postulantes a mandatos variados em 2018 corre o risco de se tornar mera propaganda enganosa. Argumentam que o fenômeno da transferência de votos é difícil de se materializar na realidade política brasileira – e poucos, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lograram chegar a tanto. Foi graças ao prestígio de Lula que Dilma Rousseff, então uma técnica ou “gerentona”, que teve a imagem retocada no marketing de “Mãe do PAC”, logrou se eleger em 2010 e ser reeleita em 2014, ficando impossibilitada de cumprir o segundo mandato devido ao impeachment que a apeou do cargo. “Ainda assim, foi uma transferência episódica que não constitui a praxe na vida pública nacional”, observa um cientista político paraibano que prefere não ser identificado.
O governador Ricardo Coutinho, embora teime em dizer que o foco seu é essencialmente administrativo, tem sido cobrado por aliados mais próximos a rever o anúncio de que não disputará o mandato senatorial em 2018, ficando no Palácio da Redenção até o último dia como estratégia para tentar eleger um sucessor (ou sucessora), de perfil por enquanto totalmente ignorado, valendo-se do efeito colateral da sua ação como administrador. Os analistas recordam que se isto fosse passaporte seguro para a eleição de terceiros Estelizabel Bezerra teria sido eleita prefeita de João Pessoa em 2012 e Cida Ramos teria sido ungida nas urnas em 2016. Ambas não passaram do primeiro turno, apesar de Estelizabel ter feito saldo médio que lhe permitiu uma eleição à Assembleia Legislativa. Cida Ramos inclina-se por trilhar o mesmo caminho em 2018, confiante no poder “místico” de Ricardo.
Os “ricardistas” mais fanáticos trabalham em cima de uma suposta aprovação de 75% obtida pelo chefe do Executivo em razão de obras pontuais de impacto que tem empreendido a despeito da crise nacional. O governador, que parece sem fichas no jogo político para o próximo ano, tenta acomodar pretensões internas, no seu agrupamento, e “amarrar” o apoio de siglas influentes como o PMDB. Ou atrair de volta o Partido dos Trabalhadores, sua primeira legenda, para uma composição que teria o aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ambição de Coutinho é a de esmagar o PSDB do senador Cássio Cunha Lima – e, dentro desse objetivo tático várias fórmulas têm sido examinadas na órbita do poder do atual gestor paraibano.
Inicialmente cogitou-se lançamento de candidatura própria do PSB, que poderia vir a ser empalmada pelo secretário de Infraestrutura, João Azevedo. Depois, João foi “retirado” das especulações diante da perspectiva de ser preservado para disputar a prefeitura de João Pessoa na sucessão de Luciano Cartaxo, cujo mandato seria completado a partir de 2018 pelo peemedebista Manoel Júnior, seu vice. Ricardo tem feito verdadeira ginástica para não apoiar uma virtual candidatura da vice-governadora Lígia Feliciano, do PDT, mas tenta acomodá-la e ao seu grupo, de que fez parte, ainda, o deputado federal Damião Feliciano, presidente do diretório partidário. Lígia já foi apontada como provável ocupante de uma cadeira no Tribunal de Contas do Estado, mas não há previsão de lacuna à vista. Nas últimas horas surgiu mais um balão de ensaio. Prevê que Ricardo e Lígia renunciariam ao Executivo, abrindo caminho para a eleição, via Assembleia Legislativa, do senador peemedebista José Maranhão. Este seria mimoseado, ainda, com a promessa de poder disputar a reeleição ao governo em 2018, tendo João Azevedo como vice e com o apoio do esquema ricardista.
Nesse cenário, aparentemente tranquilo, Ricardo concorreria, enfim, a uma das vagas de senador. A vice-governadora Lígia Feliciano seria remanejada para a suplência de Ricardo, com a perspectiva de assumir a titularidade quando este renunciar para disputar a prefeitura de João Pessoa, lá na frente. Ficam em aberto, nesse xadrez, os espaços do PT, onde o deputado federal Luiz Couto se insinua ao Senado, bem como do PP, caso haja composição do deputado Aguinaldo Ribeiro com o esquema ricardista. Outros partidos, mais à esquerda, seriam cooptados facilmente, como o PPS do jornalista Nonato Bandeira, chefe de Gabinete do governador. “É uma operação bastante complicada do ponto de vista de acomodar interesses. Vai exigir muita alquimia e muito engenho, porque não é fácil de se concretizar, como se imagina”, declarou uma fonte absolutamente confiável, falando “em off”. Seja como for, os aliados de Ricardo asseguram que ele está motivado a derrotar de uma só vez o esquema do senador Cássio Cunha Lima e do prefeito reeleito de João Pessoa, Luciano Cartaxo. “É questão de honra”, conclui a fonte, chamando a atenção da opinião pública para os próximos passos a serem empreendidos.
Nonato Guedes