Na passagem por São Paulo, onde foi visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e prestar-lhe solidariedade diante da condenação imposta pelo juiz Sergio Moro, o governador paraibano Ricardo Coutinho (PSB) sugeriu, em entrevista à revista “CartaCapital”, que seja antecipada a realização de eleições diretas para presidente da República, previstas no calendário para outubro de 2018. Justificou o gestor paraibano que o grande problema do país é a falta de legitimidade do governo empalmado pelo ex-vice-presidente Michel Temer (PMDB).
Nas declarações de Ricardo ficou implícito o seu compromisso de apoio a uma virtual candidatura do ex-presidente Lula a um novo mandato, até como “reparação” diante do que o governante paraibano considera “injustiça clamorosa”, que foi a decisão de Moro de alijar o líder petista da disputa eleitoral. “Não se faz política no País alijando representantes legítimos do povo que estão sendo punidos por motivações inaceitáveis”, desabafou Ricardo Coutinho. O gestor socialista está em processo de reaproximação com o PT na Paraíba, considerando superadas as divergências que o levaram a se desfiliar de uma legenda em que conquistou mandatos importantes. Ricardo deixou o PT em meados de 2004, por ter sido preterido como candidato a prefeito de João Pessoa. Facções radicais do partido no Estado chegaram a propor a sua expulsão sumária por ter supostamente feito alianças com forças conservadoras que o PT repudiava.
Coutinho ingressou no PSB, a candidatura a prefeito da Capital foi assegurada e ele saiu com um trunfo valioso: a eleição no páreo. Em 2008, foi reeleito, novamente pelo PSB, tendo renunciado ao cargo para concorrer ao governo em 2010, quando também foi vencedor. Ricardo foi substituído na prefeitura pelo ex-vice Luciano Agra (já falecido), que tentou emplacar uma candidatura em 2012 dentro do PSB mas foi “rifado” por Ricardo. Como represália, Agra “cristianizou” a candidata Estelizabel Bezerra, lançada por Ricardo e que não logrou ir ao segundo turno, e cerrou fileiras com a candidatura de Luciano Cartaxo, então petista, que ganhou na segunda rodada contra o ex-senador tucano Cícero Lucena.
A propósito da saída de Ricardo do PT e das queixas sobre hostilidades enfrentadas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva oficializou recentemente pedido de desculpas a Coutinho e pediu-lhe que passasse uma esponja naqueles acontecimentos, que refletiam a radicalização ostensiva de correntes petistas. Ricardo, que já se aliou ao senador José Maranhão (PMDB) e ao senador Cássio Cunha Lima (PSDB), bem como ao ex-senador Efraim Morais (DEM), voltou a ser cortejado pelo PT local e vinha tendo seu nome referenciado para compor uma chapa com Lula na cabeça a presidente da República. O coro nesse sentido cessou parcialmente diante da indefinição quanto à viabilidade de uma candidatura de Lula por causa da sentença de Sergio Moro. A respeito do comportamento do magistrado, Coutinho reafirmou em São Paulo, em entrevistas, que Moro havia condenado Lula antecipadamente. O ex-presidente petista sinalizou o desejo de voltar à Paraíba para acompanhar obras da transposição das águas do rio São Francisco, o que poderá ocorrer no dia 28 próximo ou em agosto. Ele já esteve, ao lado de Ricardo, visitando obras em Monteiro, no Cariri, e agora pretende se deslocar ao Sertão paraibano.
Nonato Guedes