A informação de que líderes nacionais do PSDB cogitam atrair o PSB para uma aliança na eleição presidencial de 2018 que neutralize um suposto ressurgimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa a gerar inquietação na Paraíba devido ao enfrentamento, hoje, do senador tucano Cássio Cunha Lima e do governador socialista Ricardo Coutinho, que foram aliados em pleitos importantes como o de 2010. A partir de São Paulo fala-se numa chapa ao Planalto encabeçada pelo prefeito João Doria e tendo como vice Renata Campos, viúva do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que morreu em acidente aéreo quando dava a largada para concorrer à presidência da República em 2014. A composição não é do agrado de Ricardo nem de Cunha Lima, conforme asseguram fontes com acesso aos dois líderes paraibanos, observando que isto se deve à incompatibilidade da presença de Ricardo e Cássio num mesmo palanque e não a restrições pessoais a Doria e Renata Campos.
Ricardo, embora diga na Paraíba que poderá permanecer no governo até o último dia do mandato, a pretexto de presevar o “projeto” socialista que ele tem implementado, analisa com interesse os espaços que possa vir a ter no cenário nacional nas eleições de 2018. O desejo secreto do governador é o de ser candidato a vice do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem tem estreitado relações e a quem visitou em São Paulo a pretexto de solidarizar-se com ele por causa da condenação aplicada pelo juiz Sergio Moro. O PSDB, que sofreu um baque com o envolvimento do senador Aécio Neves e do ex-ministro José Serra em escândalos, aposta fichas nos nomes de Doria e Geraldo Alckmin, este governador de São Paulo e que já foi candidato derrotado a presidente da República. Doria é tido como a novidade no cenário nacional e teria um grande reforço se a viúva de Eduardo Campos aceitasse ser vice numa chapa por ele encabeçada. Os contatos tendem a se intensificar para estudo de viabilidade da composição, levando em conta situações regionais ou estaduais, como a da Paraíba.
O Partido Socialista prepara-se para completar 70 anos de existência no dia seis de agosto e uma vasta programação está sendo agendada pelo presidente Carlos Siqueira, historiando as lutas empalmadas pela legenda e as posições nacionalistas firmes que continua adotando na conjuntura brasileira. Ricardo Coutinho mantinha boas relações com Eduardo Campos. Mas o falecido ex-governador de Pernambuco tinha canais abertos, também, com o senador tucano Cássio Cunha Lima. A “ponte” entre tucanos e socialistas, inclusive da Paraíba, era o senador Aécio Neves, que tinha bom trãnsito em círculos diferentes. Mas Aécio, hoje, é considerado “um problema” para o PSDB em virtude do escândalo de suposto recebimento de propina e da suspensão temporária do exercício do mandato decidida pelo Supremo Tribunal Federal. O que se comenta é que Aécio não tem mais condições de exercer influência no ninho tucano, estando entregue a tarefa de reorganização do PSDB a novos expoentes como o prefeito João Doria e a líderes mais experientes como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
A possibilidade de uma recomposição na Paraíba entre Cássio Cunha Lima e o governador Ricardo Coutinho não é sequer considerada para efeito de análise nas hostes do PSDB e do PSB. Mas há o reconhecimento de que a conjuntura nacional tem muita influência nos Estados, e de uma forma ou de outra poderá ter efeitos na Paraíba se for adiante a construção da aliança PSDB-PSB. Fontes ligadas ao governador paraibano não escondem que Ricardo veria com bons olhos a hipótese de sair vice de Lula, que, embora teoricamente inelegível nos termos da condenação imposta pelo juiz Sergio Moro vai tentar orquestra uma mobilização nacional para reverter a pena e garantir o direito de se candidatar em 2018. Mas Lula, apesar de grato a Ricardo Coutinho, como tem externado em pronunciamentos anteriores, dificilmente dividiria chapa com ele em 2018 pelo fato de serem, ambos, nordestinos. O PT, na hipótese de Lula poder ser candidato a presidente no próximo ano, comporia a vice com representante de outros Estados, como Rio de Janeiro ou Rio Grande do Sul. No PSDB nacional, se for confirmada a candidatura de João Doria a presidente da República, cogita-se, além de Renata Campos, o nome do prefeito de Salvador, ACM Júnior, que é do DEM e descendente da linhagem política de Antônio Carlos Magalhães, que por muito tempo foi considerado “O Senhor da Bahia”. A postura de líderes paraibanos é de cautela diante das perspectivas de composição que estão circulando para 2018. “Além de cautela, há inquietação”, confessa uma fonte bem-informada que acompanha, nos bastidores, a movimentação do governador Ricardo Coutinho.
Nonato Guedes